Campanha

Justiça Climática por Elas: feita por mulheres e para todas as pessoas

Publicado em: 08/03/2023

Justiça climática por elas - Mês da Mulher Synergia 2023

A Synergia celebra o Mês da Mulher com o tema “Justiça Climática por Elas”, em referência ao Dia Internacional da Mulher, no dia 8 de março. A data reforça as lutas e mobilizações realizadas por mulheres, por meio de comitês, greves e manifestações em busca de igualdade.

A escolha do nome “Justiça climática por elas” mostra que a justiça do clima é feita também por mulheres e para mulheres. A escolha tem como objetivo evidenciar os impactos das mudanças climáticas, que atingem principalmente mulheres e meninas em situação de vulnerabilidade. Além disso, vamos destacar o protagonismo da mulher na atuação em prol da justiça climática.

O termo “justiça climática” engloba as atuações na reparação e garantia de direitos às populações menos favorecidas e mais afetadas pelas mudanças do clima, afinal, a distribuição dos impactos acontece de forma desigual. O tema ganhou protagonismo nas negociações realizadas na COP27, principalmente nos debates sobre financiamento à adaptação dos países em desenvolvimento para enfrentar os impactos das mudanças climáticas e o mecanismo para compensar nações mais pobres pelas perdas e danos decorrentes de eventos extremos.

Na Synergia as discussões sobre as questões enfrentadas por mulheres estão sempre presentes. Inclusive com campanhas anuais, como “O que é ser mulher” (2019), “Eu sou a geração igualdade: concretizar os direitos das mulheres” (2020), “O que queremos, pelo que lutamos” (2021) e “Legados” (2022).

A Synergia possui como meta no Programa de Ambição do Pacto Global da ONU manter a alta participação feminina na empresa, entretanto buscar a diversidade e inclusão pela interseccionalidade. Atualmente, a equipe da Synergia é composta por 56% de mulheres. Nos cargos de liderança, 65% são mulheres.

E, de hoje até o fim do mês, você vai conferir outros conteúdos que abordam de diferentes maneiras a relação entre mulheres, justiça climática e seus impactos.

 


Mulheres e meninas migram em busca de condições mais justas

Os motivos de deslocamento migratório no mundo são diversos: perseguições políticas e religiosas, busca por melhores condições de vidas e estudo, busca por recursos, entre outros. As mulheres representam 80% dos deslocamentos por desastres e mudanças climáticas, segundo a ONU Meio Ambiente.

Entre os fatores de deslocamentos, sejam eles internos – aqueles realizados dentro do mesmo país ou região – ou externos – os realizados entre diferentes países – os mais destacados são por conflitos, violência e desastres ambientais, que resultaram em 40,5 milhões de deslocamentos internos só em 2020, conforme apontado no Relatório Mundial sobre Migração, produzido pela ONU Migrações. Já os deslocamentos externos chegaram a 2 milhões, e tiveram queda devido a pandemia.

Justiça climática por elas - mulheres buscam abrigo da ONu em xona de guerra. foto: Deposit
Mulheres buscam áreas seguras em zona de guerra. Fotomontagem da Synergia sobre foto do Deposit

A guerra entre Rússia e Ucrânia é um exemplo de ação que impacta ambiental e socialmente, reforçando a necessidade de justiça climática para as populações e países mais afetados. Afinal, os incêndios em florestas, edifícios e campos agrícolas impactam a geração de recursos para a população, ocasionando ainda mais razões para a migração para além dos conflitos.

Desde que começou a guerra, em fevereiro de 2022, cerca de 10 milhões de pessoas haviam se deslocado para fugir dos conflitos. Desse total, 90% eram mulheres e meninas que estavam em busca de abrigo, alimentos, segurança, estabilidade.

Em outro contexto, a região do Chifre da África, que abrange Quênia, Somália e Etiópia, Eritréia, Uganda, Djibuti, Sudão e Sudão do Sul, tem sofrido com conflitos entre comunidades agrícolas e pastoris em busca de suprimentos e água, causados por uma extrema crise de seca e mudanças climáticas. No Relatório Mundial sobre Migração, produzido pela ONU Migrações, mulheres e meninas representam mais de 50% dos migrantes da região do Chifre da África.

Justiça climática por elas - mulheres negras com cartazes de protesto. Foto EPA
Países mais pobres, e sua mulheres, são mais afetados pela falta de justiça climática. Fotomontagem da Synergia sobre foto do EPA

Embora sejam as menos responsáveis pelas mudanças no clima, as mulheres e meninas mais pobres e, portanto, mais vulneráveis, são as que mais sofrem com a falta de acesso aos recursos. Por isso, a justiça climática tem agido para assegurar que aqueles, como empresas e países desenvolvidos, que mais exploraram e se beneficiaram com a degradação dos recursos e impactos no clima sejam responsabilizados a criar medidas e investir para reparar e regenerar os danos já causados.

Qual é o rosto da justiça climática?

Entre os anos 2000 e 2017, mais de 6 milhões de pessoas foram forçadas ao deslocamento interno no Brasil, por conta da desastres naturais como inundações, enxurradas e tempestades, conforme dados do Observatório de Migrações Forçadas, do Instituto Igarapé.

O deslocamento fez com que essas pessoas perdessem seus modos de vida e migrassem em busca de novos recursos para se reestabelecerem, seja nos grandes centros urbanos ou em outras regiões do país.

Justiça climática por elas - mulheres e crianças em travessia de bote
Desastres naturais são responsáveis por grande parte das migrações no Brasil. Fotomontagem da Synergia sobre foto de Marcelo Camargo/Agência Brasil

Além das desigualdades evidenciadas com a falta de justiça climática, Erika Pires Ramos, fundadora da Rede Sul-Americana para as Migrações Ambientais (Resama), aponta no livro “Quem precisa de justiça climática no Brasil?”, que os deslocamentos mostram duas vertentes de impacto: a de mulheres migrantes e a de mulheres que se tornam chefes dos lares quando seus companheiros migram. Mas os riscos de subsistência são maiores para as migrantes, afinal elas são expostas aos diferentes tipos de violência, devido a desigualdade imposta pela falta de acesso à educação, informação e renda.

Erika também aponta a falta de dados desagregados para analisar, o que dificulta o trabalho com grupos em situação de vulnerabilidade, afinal é preciso dar um rosto a justiça climática para atuar a partir das necessidades e demandas de cada pessoa, inclusive para desenvolver políticas públicas e projetos que assegurem os direitos das populações impactadas pelas mudanças do clima, em especial das mulheres e meninas que migram em busca de recursos.

E para se implementar políticas públicas é preciso incluir as pessoas impactadas, proporcionando maior protagonismo a elas que atuam para garantir a justiça climática e também para as que precisam de justiça climática.

 

Dia 15/03


Protagonismo feminino em meio aos impactos dos eventos climáticos

As chuvas fortes, secas extremas, aumento de temperaturas, incêndios florestais, entre outros eventos climáticos, são causados em grande parte pela mudança de clima que afeta toda a sociedade. Porém, atrelada a outros fatores de desigualdade, a mudança climática atinge principalmente as populações mais vulneráveis, em especial mulheres e meninas.

Elas são maioria no Brasil, representando 51,1% da população total, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por isso, investir na atuação de mulheres e meninas na linha de frente de combate às mudanças do clima é investir na justiça climática e na reparação de danos e desigualdades. É o que mostra o estudo “Participação de mulheres como um facilitador de justiça climática”, da Mary Robinson Foundation – Climate Justice.

Justiça climática por elas Foto Rovena Rosa - Agencia Brasil
Maioria no Brasil, mulheres são as mais afetadas pelos eventos climáticos. Fotomontagem da Synergia sobre foto de Rovena Rosa/Agência Brasil

O estudo aponta que esse investimento pode acontecer a partir da participação ativa de mulheres e meninas desde o planejamento até a implantação de ações para o combate às mudanças climáticas. Além disso, a inclusão de mulheres e meninas em posição de liderança nas comunidades e estruturas de governança pode acarretar uma melhor conservação e regeneração dos recursos. Afinal, suas vivências podem agregar muito ao processo de reparação dos efeitos das mudanças climáticas.

Mulheres são protagonistas da justiça climática

Os impactos desproporcionais causados pelas mudanças climáticas têm apontado a urgência de se falar sobre clima e gênero. Para além das desigualdades, é importante falar sobre o protagonismo feminino no combate às mudanças do clima.

Na Amazônia, por exemplo, cenário de desmatamento acelerado e de períodos de secas extremas, as mulheres desenvolvem papéis de administradoras dos recursos domésticos e naturais, atuando no combate aos efeitos das mudanças climáticas e contra o desmatamento.

Justiça climática por elas - mulheres indígenas Foto Erisvan Guajajara -Amazônia Real
Mulheres indígenas têm atuado fortemente em iniciativas pelo território. Fotomontagem da Synergia sobre foto de Erisvan Guajajara/Amazônia Real

Além disso, elas atuam ativamente no cuidado com o território, com iniciativas para impedir a atuação de garimpeiros e madeireiros. As ações das Guerreiras da Floresta – grupo de mulheres indígenas do povo Guajajara que buscam preservar a floresta para seus filhos, filhas e futuras gerações – têm ganhado notoriedade neste sentido.

O Projeto-Piloto do Rio Mangaraí, conduzido pela Synergia no ano passado, possuía uma linha de atuação para o empoderamento feminino das mulheres da região, auxiliando na participação ativa delas para o desenvolvimento da comunidade e a reestruturação local. É importante destacar que a área de atuação do projeto compreendia o território de Santa Leopoldina (ES), na Bacia do Rio Mangaraí, onde erosões têm acumulado sedimentos e afetado o funcionamento da Estação de Tratamento de Água de Carapina.

Para incentivar a participação das mulheres, o projeto apostou na realização de conversas de aproximação, atividades como troca de saberes, desenvolvimento de planos de negócios, projetos para captação de recursos e intercâmbios para troca com mulheres produtoras de outras bacias hidrográficas.

Paula Raquel, coordenadora de projetos da Synergia, aponta que para o crescimento econômico, social e ambiental da região, é muito importante o despertar das mulheres para o entendimento de seus papéis e de sua autonomia: “Elas, como principais responsáveis pela gestão do cotidiano, dos filhos e filhas, dos alimentos plantados e colhidos, têm o poder de alavancar a comunidade, mas é preciso que elas estejam também em posição das tomadas de decisão”, comenta.

Justiça climática por elas - mulheres programa da Synergia em território
Projetos voltados para as mulheres incentivam empoderamento e participação feminina nos territórios. Fotomontagem e foto: Synergia

Outro evento climático, conhecido por muitas famílias brasileiras, é o avanço do mar. Ele tem afetado a vida de moradores e moradoras nas costas litorâneas, que têm suas casas e negócios atingidos pela destruição e/ou deterioração. É o caso do município de Itapoá (SC), que sofre nos últimos anos com o avanço das águas, uma ameaça ao modo de vida das famílias locais.

Em Itapoá, o Programa Geração, realizado pela empresa Porto Itapoá e conduzido pela Synergia, teve como objetivo estimular e apoiar o empreendedorismo econômico e solidário. Dos 15 negócios locais, 14 eram de mulheres, entre elas quituteiras e artesãs. O programa possibilitou a reestruturação das mulheres em uma área tão afetada pelas mudanças do clima.

O desenvolvimento coletivo trabalhado no programa, em especial das mulheres que histórica e socialmente são minorizadas, abre espaço para conservação da cultura e da região. Além disso, o programa permitiu um aumento da renda das famílias em 21%.

Educação e oportunidades para a mudança

A participação das mulheres no processo de desenvolvimento e reestruturação dos territórios em meio aos impactos do clima, abre ainda mais espaço para o debate sobre a participação de mulheres e meninas em ações de combate. Entretanto, para isso, é necessário que elas tenham acesso à educação de qualidade e oportunidades.

No artigo “Como salvar o mundo: educando meninas para a liderança climática”, Renata Koch, Diretora do EmpoderaClima, reforça que meninas com acesso à educação são agentes capazes de defender o desenvolvimento sustentável. Além disso, o conhecimento técnico pode fazer com que mulheres e meninas se tornem lideranças climáticas.

Ela aponta, ainda, que quanto mais investimento na educação de meninas, mais elas estarão habilitadas para lidar com as injustiças climáticas. Isso fortalece as propostas e idealizações em benefício do empoderamento feminino frente às mudanças climáticas.

 

Dia 22/03


Mulheres se destacam como agentes de transformação em seus territórios

As mudanças no clima já causaram diversos impactos no meio ambiente e na vida das populações, principalmente de mulheres e meninas dos países mais pobres.  E, sentindo diariamente os efeitos das mudanças climáticas, elas têm encontrado soluções para reparação de seus territórios, auxiliando no desenvolvimento das comunidades.

No mesmo caminho, a economia da reparação aborda a necessidade de se reparar os danos e as perdas causados no meio ambiente antes que seja tarde. Na COP27, os países ricos fecharam um acordo para financiar perdas e danos causados pelas mudanças climáticas nos países mais vulneráveis.

Isso permite que os países mais pobres possam trabalhar a reparação e reduzir os impactos que afetam mulheres, meninas e outros grupos minorizados, ou seja, quem mais precisa de justiça climática.

Justiça climática por elas - Mesa só de mulheres na COP27 Foto Oforiwa Darko_GBC Ghana
Atuação das mulheres na luta contra os efeitos das mudanças climáticas foi destaque na COP27. Fotomontagem da Synergia sobre foto de Oforiwa Darko/GBC Ghana

Enquanto o acordo da COP27 aguarda ajustes para que se dê início aos financiamentos, empresas da iniciativa privada e sociedade civil tomam a frente e assumem para si a atuação para reparar seus territórios a partir do acesso ao trabalho, à renda, à capacitação profissional, entre outros direitos civis.

É o caso das moradoras de Altamira (PA), que possuem um importante papel, como conta Andrea Castro, analista de desenvolvimento social da Synergia, que com o passar dos anos, assumiram postos de lideranças, buscando mais informações, participando ativamente de reuniões e debates e pontuando o que é importante para o desenvolvimento de suas comunidades. Como moradora da região, Andrea reforça: “É um privilégio dar continuidade àquilo que nossas pessoas antepassadas começaram”.

Mulheres na reparação e regeneração de seus territórios

Como forma de reparar e regenerar suas comunidades, as mulheres têm atuado por meio da produção rural, do trabalho artesanal, da política, entre outras formas de participação. Com isso, os territórios podem se tornar mais igualitários, prósperos e seguros.

A partir dessas atuações, elas impactam na regeneração local, gerando renda, buscando capacitação e desenvolvendo novas habilidades, para que, em conjunto, possam contribuir com o desenvolvimento da região.

Exemplo disso é o trabalho realizado em Barcarena (PA), onde o projeto Travessia Barcarena, conduzido pela Synergia, contribuiu para que aproximadamente 120 mulheres locais gerassem renda a partir da confecção de máscaras de proteção facial – distribuídas gratuitamente à população mais vulnerável, durante a pandemia de covid-19.

Miriam Armelin, gerente de projetos da Synergia, aponta que o projeto possibilitou que as mulheres trabalhassem de casa, respeitando o distanciamento e, principalmente, permitindo que se aprimorassem na costura para gerar renda e melhores condições de vida.

Justiça climática por elas - Mulher e máquina de costura - Projeto Travessia
Programa Travessia Barcarena possibilitou a geração de trabalho e renda para mulheres em Barcarena (PA). Fotomontagem e foto: Synergia

Para isso, as mulheres da região tiveram dicas de costura, curso de empreendedorismo, treinamento de ferramentas de gestão, formação digital, entre outras capacitações, que permitiram que elas criassem novas perspectivas.

Miriam comenta que a possibilidade de transformação e melhoria é o que motiva as mulheres a buscarem soluções: “Elas têm uma capacidade de transformação muito grande. Estão sempre disponíveis para capacitação, para trabalhar de forma colaborativa e coletiva, e isso gera novos caminhos, novas alternativas”, completa.

O projeto se desdobrou no Estilo Travessia, voltado para a alfaiataria e alta costura. Para isso, as mulheres participantes desenvolveram peças para um desfile que mostrou a potência da costura local e a vontade dessas mulheres em contribuir com suas famílias e com a região.

Maria Oliveira, costureira do projeto Travessia Barcarena, reforça como o projeto fortaleceu as mulheres da região: “Foi uma chance de despertar, de criar forças para lutar por mim e pela minha mãe”, comenta. Maria, ainda conta que, com os aprendizados do curso, já produziu capas para empresas da região.

Inserção no mercado de trabalho é um dos caminhos para a reparação

Mesmo buscando transformações, as mulheres são as mais afetadas pela desigualdade no mercado de trabalho, o que impacta em suas atuações. De acordo com o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), no 4º trimestre de 2022, a taxa de desemprego era de 9,8% para mulheres, já para os homens, a taxa era de 6,5%.

Justiça climática por elas - mulheres em projeto de Trilhas Formativas
Capacitação profissional por meio de trilhas formativas incentiva mulheres a entrarem no mercado de trabalho. Fotomontagem e foto: Synergia

Para reduzir esses números e as desigualdades que são agradavas pelo desemprego, o programa Todos pelo Trabalho, que investe na capacitação profissional, busca atuar por meio de trilhas formativas no preparo da população para o mercado de trabalho. Entre os direcionamentos, há um exclusivo para a inserção de mulheres.

Com a capacitação e as ferramentas certas, elas têm a possibilidade de contribuir para a reparação dos territórios, por meio do trabalho local e da movimentação econômica procedentes desse trabalho, além de tantas outras formas.

Por isso, é tão importante fomentar ao acesso de mulheres e meninas à educação, mercado de trabalho, moradia digna e outros fatores que promovem a igualdade, assim é possível que elas atuem como agentes de transformação em suas comunidades e arredores.

Dia 29/03


Por meio da participação na agricultura, mulheres contribuem para a segurança alimentar em todo o mundo

A agricultura familiar é uma das principais fontes de alimentos no mundo, e as mulheres têm papel fundamental também aqui. De acordo com dados divulgados em 2021 pela ONU para Alimentação e Agricultura (FAO), pequenas fazendas produzem, em média, 35% dos alimentos do mundo. Mas, no Brasil,  esse número não chega a 10%.

Essa modalidade é composta por pequenos produtores e produtoras rurais, povos e comunidades tradicionais, assentados/as da reforma agrária, silvicultores/as, aquicultores/as, extrativistas e pescadores/as.

Justiça climática por elas - mulher em plantação Foto Pnud Bangladesh
Mulheres se destacam na agricultura familiar ao redor do mundo. Fotomontagem da Synergia sobre foto Pnud Bangladesh

Considerando somente os países em desenvolvimento, a força de trabalho agrícola é composta por 40% de mulheres. Na América Latina, essa proporção diminui para 20%, enquanto pode chegar a 50% ou mais em partes da África e Ásia. A ONU relaciona essa variação da proporção à falta de acesso à terra, falta de crédito e de capacitação.

Entre as produções agrícolas no Brasil, o número de mulheres produtoras à frente de propriedades rurais é expressivo, mais ainda baixo em comparação com homens. Conforme o Censo Agropecuário 2017, divulgado pelo IBGE, elas representam 19% das responsáveis por estabelecimentos rurais, ou seja, 947 mil do total de 5,07 milhões de estabelecimentos.

De acordo com a FAO, a participação das mulheres na agricultura pode impactar em aumento da produtividade e produção agrícola, possibilitando bem-estar social, crescimento econômico e segurança alimentar.

Justiça climática por elas mulher segura cesta com verduras colhidas em plantação. Foto: Adobe Stock
Agricultura familiar é uma das principais fontes de alimentos no mundo. Fotomontagem da Synergia sobre foto Adobe Stock

A Organização traz, ainda, um ponto de destaque que revela a importância da equidade: “a redução da desigualdade entre homens e mulheres no acesso aos recursos produtivos e insumos agrícolas poderia reduzir entre 100 milhões e 150 milhões o número de pessoas com fome no mundo”.

Ou seja, a participação das mulheres no meio agrícola tem grande valor, e a possibilidade de elas assumirem espaços – com equidade de direitos e oportunidades – é importante para a sociedade como um todo, não apenas para as próprias mulheres.

Investimento na agricultura familiar incentiva participação de mulheres

Para fomentar a participação feminina e contribuir para seus negócios, políticas públicas, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), possuem estratégias de desenvolvimento rural para a agricultura familiar.

Atualmente, 30% do valor repassado pelos programas deve ser investido na compra de produtos da agricultura familiar, estimulando o desenvolvimento econômico e sustentável. As mulheres representam 80% dos/as fornecedores/as de produtos para o PAA.

Além disso, no PAA, foi declarado como critério a participação mínima de 40% de mulheres como beneficiárias fornecedoras na modalidade de Compra com Doação Simultânea (CDS) – onde os produtos adquiridos dos produtores/as são doados às pessoas com insegurança alimentar – e 30% na de Formação de Estoque (CPR – Estoque), apoio aos/as agricultores/as familiares na comercialização de produtos para garantir o preço e a renda do/a produtor/a.

Justiça climática por elas mulher em maio a plantação. Foto: Arquivo Pessoal - Ministério da Agricultura e Pecuária
Atuação feminina na agricultura impacta diretamente no desenvolvimento econômico local. Fotomontagem da Synergia sobre foto Arquivo Pessoal/Ministério da Agricultura e Pecuária

A ampliação da atuação feminina a partir da agricultura também impacta diretamente no desenvolvimento econômico local. Em Cafundão, Mariana (MG), mulheres ligadas às atividades da Associação de Cooperação Agrícola Cafundão começaram a cultivar hortaliças em hortas agroecológicas, cuja produção é comercializada para a prefeitura local para atender à merenda escolar da rede pública de escolas, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

A Synergia tem colaborado com a construção de uma cozinha industrial para as mulheres da região. O objetivo delas é produzir e vender os doces e produtos da agricultura familiar agroecológica, feitos a partir de receitas tradicionais e desenvolvidos com recursos locais. As mulheres terão apoio técnico e capacitação, permitindo a geração de renda com a venda dos produtos.

Mulheres multidisciplinares: agricultura ajuda no desenvolvimento de negócios femininos

Além de atuarem na agricultura, as mulheres fazem uso dos alimentos para desenvolver e vender produtos que geram renda para suas famílias, inclusive compram matéria-prima de outras famílias, promovendo uma economia circular.

Assim é feito em Conceição do Mato Dentro, onde as famosas quitandeiras investem em seus negócios a partir da combinação da agricultura e gastronomia e contribuem para o desenvolvimento de outras famílias, além de impulsionarem o turismo local.

Justiça climática por elas - mulher descascando aipim - Foto: Synergia
Projetos de reestruturação produtiva incentivam o desenvolvimento de mulheres. Fotomontagem e foto Synergia

Em um projeto de reestruturação produtiva realizado pela Synergia, algumas quitandeiras da região receberam acompanhamento técnico, por meio da capacitação profissional, melhorias das condições e auxílio nas formas de produzir.

A participação das mulheres na região é vista como algo fundamental, conta Gustavo Nápoles, gerente de projetos da Synergia: “Elas são base da economia local. A partir da organização e fortalecimento de grupos, elas geraram renda, contribuíram com o turismo e, principalmente, desenvolveram o papel ocupacional e um espaço de acolhimento entre elas”, comenta.

 


Encerrando as ações da campanha do Mês da Mulher Synergia 2023, realizamos no dia 30 de março a Live “Justiça Climática por Elas”!

Clique no vídeo e confira a Live completa!

Convidamos três mulheres muito especiais para compartilhar suas experiências e perspectivas sobre como as mudanças climáticas atingem, principalmente, as meninas e mulheres – e a importância da justiça climática para mitigar este problema.

Conheça as convidadas da Live “Justiça Climática por Elas”:

Jéssica Maes: Repórter da editoria de Ambiente da Folha de São Paulo e mediadora da Live.

Gabriela Goulart: MSc em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável e especialista em Gestão Socioambiental na Synergia.

Joci Aguiar: Economista, ecofeminista e ambientalista. Membra do GT de Gênero e Clima do Observatório do Clima.

Confira todas as publicações do Mês da Mulher Synergia 2023 – “Justiça Climática por Elas” também pelo Instagram e LinkedIn da Synergia Socioambiental.

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