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Visibilidade Trans: vulnerabilidades no cenário nacional e no internacional

Publicado em: 31/03/2022

O Dia Internacional da Visibilidade Trans é uma data importante para conscientizar e reforçar a necessidade de respeito e equidade, fortalecendo a luta e dando visibilidade para a causa.

Afinal, apenas muito recentemente as pessoas trans começaram a ganhar algum espaço, assim como políticas públicas voltadas para elas. E esse cenário ainda pode variar muito de país para país, tanto de forma positiva quanto negativa.

É importante destacar que o termo “Trans” é utilizado para definir pessoas que não se identificam com o gênero designado em seu nascimento, com nenhum gênero ou com mais de um deles. Ou seja, o seu sexo biológico não coincide com a sua identidade de gênero. São consideradas pessoas trans: transgêneros, transexuais, travestis, pessoas não binárias e agênero.

Mesmo com os avanços em relação ao acolhimento e inclusão de pessoas trans na sociedade, em grande parte fruto da luta por visibilidade trans e pela maior representatividade adquirida ao longo dos anos, eles ainda são poucos e lentos. Infelizmente, estamos bem longe do nível de inclusão necessário para evitar preconceitos e, principalmente, a violência contra pessoas trans.

Brasil avança em relação à visibilidade trans, mas ainda detém recorde negativo

O cenário nacional apresenta avanços em relação à visibilidade trans – com travestis e pessoas transexuais ganhando maior presença e participação na política, nas mídias e em veículos de comunicação, o que gera maior debate sobre as questões importantes que envolvem as pessoas trans no país.

Porém, o Brasil ainda é o país que mais mata pessoas transexuais, de acordo com o Dossiê “Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transexuais Brasileiras em 2021”, lançado em janeiro de 2022 pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Foram 184 mortes em 2020, representando média de uma morte a cada dois dias.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média de vida da população brasileira é de 74 anos. No entanto, quando falamos de pessoas trans, essa média cai para apenas 35 anos.

Visibilidade Trans. Manifestção por identidade de gênero. Foto SINASEFE.org
Manifestação por direitos para as pessoas trans. Foto: SINASEFE.org

O IBGE também aponta que fatores como a discriminação, a baixa escolaridade e o desemprego impulsionam essa estatística – principalmente quando consideramos que muitas pessoas trans são expulsas de suas casas e obrigadas a se prostituírem para conseguirem algum sustento.

Em 2020, o Brasil tinha cerca de 3 milhões de pessoas adultas trans e não binárias, segundo levantamento inédito realizado pela Unesp. Isso representava quase 2% da população. E vale destacar que esses números chegaram a ser questionados por especialistas e organizações, que acreditam que a porcentagem fosse muito maior.

Mas o mercado de trabalho formal absorve uma parcela muito pequena dessas pessoas. A falta de políticas públicas integradoras para homens e mulheres trans no mercado de trabalho e no acesso à educação, leva essa parcela da população a colocar as suas vidas em maior risco.

Cerca de 90% das pessoas trans acabam utilizando a prostituição como a sua principal renda. Entre as pessoas que estão empregadas, a maior parte se encontra na informalidade ou em subempregos, de acordo com o dossiê do Antra.

Recentemente, o cenário mundial apresentou circunstâncias que nos lembram que a causa ainda avança muito lentamente também mundo afora.

Cenário internacional e guerra: quando vulnerabilidades se acumulam

A visibilidade trans, ou a falta dela, tem grande importância e pode influenciar diretamente no modo como um país trata a sua população gay e/ou transexual.

A homossexualidade ainda é crime em 69 países do mundo. E quando se trata da população trans, a falta de estatísticas dificulta a análise do cenário. Mas não é difícil imaginar que o preconceito seja ainda maior. E os efeitos disso puderam ser vistos claramente no conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

A guerra, por si só, já é um evento que causa vulnerabilidades, principalmente para mulheres e crianças. Mas a guerra na Ucrânia evidenciou mais um cenário de perigos para as pessoas trans.

Visibilidade Trans_ mulher trans na janela. Foto: The Guardian
Mulheres trans enfrentam cenário de incerteza, preconceito e risco na Ucrânia. Foto: The Guardian

Além do medo que as mulheres trans tiveram de serem convocadas para a guerra, muitas delas foram impedidas de cruzar as fronteiras do país.

As burocracias e dificuldades impostas pelo próprio governo para que pessoas trans mudem os seus documentos oficialmente são enormes. Logo, muitas das mulheres e homens trans demoram longos anos ou desistem de realizar o processo.

O que, neste momento, tem sido um entrave na vida das mulheres trans que não têm suas identidades de gênero reconhecidas. Mesmo quando possuem certidões que comprovam a mudança de gênero, são impedidas de atravessar as fronteiras e fugir da guerra – já que seus passaportes e documentos continuam registrados com o gênero masculino. O país determinou que homens entre 18 e 60 anos não podem deixar o território.

É importante ressaltar que não encontramos relatos ou reportagens de como está sendo feita a inserção de homens trans no exército ucraniano, se são aceitos e sob quais condições.

No Brasil, a inserção do nome social nos documentos é garantida por lei desde 2016.

Em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que pessoas transgênero têm direito ao uso nos documentos oficiais do nome que escolherem, mesmo sem a cirurgia de redesignação sexual.

Visibilidade Trans. Mulher trans Foto: DeFato
No Brasil, o uso do nome social é garantido por lei. Foto: DeFato

Também vale destacar que a Ucrânia não aprova o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e que países vizinhos considerados opções de escape do território de guerra, como Polônia e Hungria, têm governos declaradamente LGBTfóbicos.

Fatos como esses nos mostram claramente que não podemos desistir da luta por representatividade, equidade e respeito. Mas também demonstram que ainda estamos muito longe de uma sociedade com justiça e inclusão para todos e todas.

Um sopro de esperança

Para não terminarmos essa notícia sobre Visibilidade Trans em um tom tão sombrio, e dar um sopro de esperança, vamos destacar algumas dicas importantes:

  • Você pode ajudar a mudar essa situação, pelo menos de forma nacional, pensando bem e considerando as suas opções políticas e as propostas dos/as candidatos/as nas próximas eleições. Afinal, a criação de políticas públicas voltadas para pessoas trans é um passo importantíssimo na luta por inclusão.
  • Conhece um comércio ou serviço local que empregue ou seja de pessoas trans? Apoie!
  • Tenha atenção a benefícios que as empresas disponibilizam para as pessoas trans, tanto para divulgar quanto para cobrar/indicar melhorias na sua própria empresa. Um exemplo disso foi realizado recentemente pela empresa Vale, que autorizou o plano de saúde de seus funcionários e funcionárias a cobrir a cirurgia de redesignação sexual.
  • E busque se informar sobre o que a sua empresa está fazendo para ajudar. A Synergia, por exemplo, firmou o seu compromisso com a diversidade por meio do desenvolvimento da sua própria Política de Diversidade e Inclusão. A empresa também tem parceria com a TRANSempregos. Todas as nossas oportunidades de contratação de profissionais são compartilhadas na plataforma, voltada para o público trans.
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