Publicado em: 13/04/2021
A Synergia Consultoria Socioambiental, em parceria com outras duas empresas espanholas, Multicriteria Planning (MCrit) e Centre Tecnològic de Catalunya (Eurecat), foi contratada pelo Banco Mundial para realizar uma análise sobre sistema de transporte público inclusivo, com foco em grupos em situação de vulnerabilidade social na cidade de São Paulo (SP). Espera-se, ainda, que as empresas consorciadas construam uma metodologia capaz de avaliar os benefícios do Projeto BRT Aricanduva, uma iniciativa capaz de reduzir tempos de viagem por meio de faixas exclusivas e promover qualidade no transporte público.
Após identificar quais são as barreiras geográficas, de transporte, socioeconômicas e individuais que impedem uma parcela da população a se tornarem usuários/as do transporte público em São Paulo, o consórcio fará recomendações ao Banco Mundial de acordo com as boas práticas nacionais e internacionais sobre medidas inclusivas. Entre as experiências mapeadas, encontram-se mecanismos para incrementar a percepção de segurança, programas de acompanhamento e treinamento, programas de melhoria do acesso à escola, programas de tarifas inclusivas e acessibilidade universal.
Entre os resultados previstos do financiamento do Projeto BRT Aricanduva, espera-se melhorar a eficiência no Centro de Controle Operacional de ônibus, que monitora toda a frota de 15 mil veículos. As viagens ganharão pontualidade, velocidade e segurança. O projeto BRT Aricanduva prevê a instalação de câmeras nas estações, sinalização, iluminação pública e acessibilidade para pessoas com deficiência. Assim, a população poderá se deslocar mais facilmente para o trabalho, escola e demais atividades. Isso significa menos carros nas ruas e emissões de carbono reduzidas, o que ajuda a diminuir os impactos das mudanças climáticas e garantir, portanto, um futuro com mais qualidade de vida. Coerente, portanto, com o compromisso da Synergia em oferecer soluções socialmente justas e ambientalmente sustentáveis.
Mas ainda há muitos desafios pela frente. Numa cidade como São Paulo, com 11,8 milhões de habitantes (FUNDAÇÃO SEADE, 2020), as pessoas perdem horas no trânsito. A população pobre é a mais prejudicada pela falta de mobilidade urbana, resultando em menos acesso a empregos, instituições de ensino e outras oportunidades. De acordo com o IBGE (2010), o tempo médio de deslocamento dos moradores da cidade, entre domicílio e o local de trabalho, é de 51 minutos. Este tempo médio de viagem é superior ao encontrado no Rio de Janeiro (46 min.), Salvador (44 min.), Manaus (41min.) e Belo Horizonte (39 min.). Cerca de 31% dos deslocamentos realizados em função do trabalho superam uma hora.
A implantação do Bus Rapid Transit (BRT), ou “Transporte Rápido por Ônibus”, do Corredor Aricanduva promete melhorar a mobilidade dos moradores da Zona Leste da cidade. Mais de 1,2 milhão de pessoas vivem nas áreas próximas ao Corredor, 52% das quais são altamente vulneráveis, incluindo 29 mil famílias que residem em favelas. Diariamente, cerca de 290 mil pessoas utilizam o serviço do Corredor Aricanduva. Esses/as usuários/as perdem, em média, 100 minutos por dia no trânsito, o que equivale a 26 dias no período de um ano.
O conhecimento acumulado no estudo realizado pela Synergia, em parceria com as empresas MCrit e Eurecat, permitirá divulgar medidas para enfrentamento às situações de imobilidade ou mobilidade insuficiente na região. Por meio dele, serão identificadas as viagens não realizadas, suspensas ou postergadas, que influenciam diretamente nas privações da população. Embora tenha como principal objetivo a identificação das principais barreiras redutoras da mobilidade da população-alvo e o auxílio na proposição de políticas de incentivo e aumento ao acesso, esses dados podem ajudar a construir um panorama de como as vidas da população local podem ser impactadas pela falta de transporte público inclusivo, acessível e de qualidade.
Para compreendermos melhor a intensidade dos impactos, podemos consultar algumas das estatísticas trazidas pelos órgãos oficiais. A Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) aponta o comprometimento de 21% do salário-mínimo com gastos de transporte público[1]. Outras capitais nacionais apresentam percentuais inferiores como Rio de Janeiro (20%), Porto Alegre (20%), Salvador (19%) e Recife (17%).
Eis que surgem os/as “desabrigados/as com teto”, pessoas que dormem nas ruas mesmo tendo casas ou locais para passar a noite. Todavia, preferem economizar o dinheiro que gastariam com a tarifa de transporte para assumir as despesas com a alimentação.
Na periferia de São Paulo encontra-se a maior parcela dos/as trabalhadores/as com empregos informais. O Mapa da Desigualdade apontou, em 2017, a oferta de 7 empregos formais a cada 10 habitantes na cidade de São Paulo. Essa taxa é reduzida para 2 empregos formais a cada dez habitantes na região de abrangência do BRT Aricanduva (REDE NOSSA SÃO PAULO, 2019).
O impacto da falta de mobilidade atinge, ainda, outras áreas que podem representar prejuízos, inclusive, para a saúde das comunidades locais, ressaltando as desigualdades. Dados disponíveis para o Distrito de Aricanduva, por exemplo, revelam uma diferença entre o percentual de mães não negras com pré-natal insuficiente (33,9%) e mães negras (40,6%). A desigualdade racial no acompanhamento pré-natal é ainda mais acentuada em bairros nobres, como na região de Pinheiros, onde a diferença entre a taxa de pré-natal insuficiente de mães não negras e negras é de, respectivamente, 10,15% e 48,23% (SINASC, 2017). É necessário destacar que o pré-natal é fundamental para que se possa evitar riscos tanto para a saúde da gestante quanto para o bebê[2]. A falta de acompanhamento pode ser um fator decisivo e interferir não somente na qualidade de vida da população, mas também nas taxas de mortalidade da região e do país.
As consequências da falta de mobilidade e de condições adequadas de transporte também refletem em outros dois grupos que já enfrentam questões sociais constantes. Além dos problemas relacionados ao preconceito, discriminação e violência diários, mulheres e LGBTQIAP+ sofrem com a violência no transporte público e convivem diariamente com a sensação de insegurança. A Pesquisa de Opinião Pública feita pelo Ibope revelou que as mulheres também são as que mais andam a pé. A falta de iluminação pública, ruas estreitas e as longas distâncias entre estações de transporte e o local de residência são alguns dos fatores que contribuem com o medo de andar nas ruas e atuam como barreiras à mobilidade urbana. Por isso, o trabalho de estudo e mapeamento dessas áreas de risco, e a subsequente implementação de melhorias na infraestrutura da cidade – pensadas especificamente para esses grupos –, é de extrema importância para diminuir desigualdades, aumentar a segurança e assegurar o aumento na qualidade de vida local.
A Synergia vem se destacando no mercado de consultorias com serviços de inteligência e modelagem rigorosa para mensuração dos efeitos de tratamento das ações e/ou políticas públicas de infraestrutura viária. A avaliação dos impactos socioeconômicos dos investimentos premia o melhor planejamento e acúmulo de práticas bem-sucedidas na gestão urbana para reaplicação e ampliação. O objetivo da empresa, para além das medidas específicas na implementação de um projeto, como planejamento e cuidados no desenvolvimento de infraestruturas adequadas, passa principalmente pelos impactos sociais positivos que elas podem acarretar para a comunidade local e para a sociedade como um todo.
Diretoria de Desenvolvimento Socioterritorial
Texto elaborado por Vinicius Corrêa – Gerente de Estudos e Pesquisas
[1] Tarifa de transporte público coletada pela ANTP multiplicada por 50 viagens por mês dividido pelo salário-mínimo de janeiro do respectivo ano (<https://www.antp.org.br/sistema-de-informacoes-da-mobilidade/estudos-complementares.html>, acesso em novembro de 2020).
[2] Serviços oferecidos pelo SUS, vantagens e principais objetivo do pré-natal. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/90prenatal.html
Sites sobre o BRT Aricanduva:
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