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Sustentabilidade no Carnaval: o que fica depois da festa?

Publicado em: 13/02/2024

Ah, o Carnaval! Temos bloquinhos nas ruas, escolas de samba desfilando, trio elétrico, festas em casa, nos salões, nas praças, nas praias… o que não faltam são opções para aproveitar esses dias nas mais diversas cidades do Brasil.

A beleza dessa data, no entanto, tem sido ofuscada pelo volume de lixo gerado e descartado nos locais públicos e na natureza. E deixa o questionamento: é possível se pensar em manter a sustentabilidade no Carnaval? 

Dados coletados por empresas de limpeza urbana, e em parceria com as prefeituras, nos mostram o cenário do pós-festa em algumas capitais, em 2023. Segundo a prefeitura de Belo Horizonte, foram recolhidas mais de 570 toneladas de lixo durante os quatro dias de carnaval na capital mineira. Na mesma época, juntas, as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro recolheram quase 1800 toneladas de lixo (694 e 1067 toneladas, respectivamente), o equivalente ao volume médio produzido por mais de 5 mil pessoas em 1 ano.

Assim como em outros eventos festivos, a concentração de pessoas estimula o comércio ambulante. Alimentos e bebidas são consumidos fora de estabelecimentos e/ou enquanto o público se desloca, resultando em cestos coletores lotados e muito lixo espalhado ao longo do caminho.

A diversidade de resíduos encontrados é grande. Além daqueles mais comuns, tais como: restos de alimentos, papéis, embalagens plásticas, latinhas, isopor, filtros de cigarro e vidro; há ainda: cigarros eletrônicos, gomas de mascar, embalagens aerossol, glitter, serpentinas metalizadas e, até mesmo, o coco verde.

Cada um desses materiais tem seu tempo de decomposição na natureza, podendo variar desde 3 a 6 meses, como é o caso do papel, até mais de 1.000 anos para o vidro. Seu acúmulo também traz impactos relacionados a questões de segurança (presença de itens perfurocortantes, interferência na mobilidade e visão de pedestres e motoristas), saúde (tornam o ambiente favorável à presença de animais vetores de doenças) e estético (mau cheiro).

Sustentabilidade no Carnaval. Lixo nas ruas Foto-Uninter
Descarte irregular de resíduos aumenta no Carnaval. Foto: Uninter

Para minimizar o problema do descarte irregular, organizadores de eventos e o poder público têm aumentado o número de trabalhadores no serviço de coleta ao final do dia. Mas, em muitas localidades, o período de chuvas coincide com os dias de festa e a água acaba carregando boa parte dos resíduos até as galerias de água pluvial e a rede de esgoto.

Não obstante, o lixo gerado nas festas pode chegar nos rios, cachoeiras e mares. Em Salvador, por exemplo, por meio de uma ação em parceria com um grupo de mergulhadores, foram retirados cerca de 300 kg de lixo do mar, apenas no Porto da Barra, na quarta-feira de cinzas de 2023.

A poluição de ambientes aquáticos é ainda mais preocupante, pois, compromete a biodiversidade em grande escala. Os animais e seus habitats tornam-se vulneráveis pela presença dos materiais na água. Muitas vezes ficam presos em embalagens e cordas ou padecem por intoxicação e sufocamento ao consumi-los.

Já partículas menores, como glitters e demais microplásticos (partículas com menos de 5 milímetros) podem ser ingeridos por organismos da base da cadeia alimentar (como os plânctons) e se acumularem em animais maiores ou mesmo em órgãos humanos, cujos os efeitos à saúde ainda nem conhecemos plenamente. É o chamado fenômeno da biomagnificação – quando há o acúmulo progressivo de substâncias de um nível trófico para outro.

Sustentabilidade no Carnaval: missão de todos e todas

Apesar da escala do problema ser grande e não se resumir a um evento em específico, podemos fazer nossa parte para contribuir com a sustentabilidade no carnaval.

Com boas práticas e optando pelo uso de produtos menos danosos ao ambiente, ações como o reaproveitamento de roupas e acessórios que já temos em casa, ao invés de adquirir itens novos, e a observação da composição nos rótulos, ajudam a ter um carnaval mais consciente e com menos impactos ao meio ambiente.

Sustentabilidade no Carnaval - montanhas de lixo Foto: Divulgação/Prefeitura de Olinda
Descarte, coleta e destinação final dos resíduos gerados no Carnaval têm sido preocupação de governantes para manter a Sustentabilidade no Carnaval. Foto: Divulgação/Prefeitura de Olinda

Hoje em dia, por exemplo, já estão disponíveis maquiagens e glitters produzidos a partir de matéria-prima natural, veganas, biodegradáveis e sem polímeros artificiais em sua composição. E optar por latinhas, ao invés de garrafas de vidro, além de ser mais seguro, também colabora com o processo de reciclagem.

E, claro, você sempre pode carregar consigo seu lixinho até encontrar um coletor apropriado para descartá-lo, principalmente, se estiver fazendo uma trilha ou relaxando próximo a cachoeiras ou à beira mar.

Em resumo, independentemente do local que escolheu para curtir o seu carnaval, seja um/a folião/ã consciente. É muito melhor ser lembrado/a pela alegria que compartilhou do que pela sujeira que deixou por onde passou.

 

Texto elaborado por Bianca Gomes,

especialista em Sustentabilidade na Synergia Socioambiental

 

 


Fontes:

G1. Mais de 900 toneladas de lixo: Superintendência de Limpeza Urbana de BH divulga primeiro balanço de Carnaval

ECOA UOL. Após Carnaval, mergulhadores retiram 300 kg de lixo do mar em Salvador

NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. Microplásticos estão em nossos corpos. Quanto eles nos prejudicam?

INSTITUTO OCEANOGRÁFICO – USP. Muito além dos nossos olhos: microplásticos no fundo do mar

CONSUMO SUSTENTÁVEL: Manual de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/IDEC, 2005. 160 p.

REVISTA PIAUÍ. O lixo recolhido durante o carnaval do Rio e de São Paulo equivale à produção média anual de mais de 5 mil pessoas

11 – Cidades e comunidades sustentáveis
12 – Consumo e produção sustentáveis

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