Publicado em: 05/06/2022
O dia 5 de junho e aqueles que o antecedem já estão fixados no calendário internacional como um momento do ano em que o meio ambiente se torna centro absoluto das discussões. A data foi instituída durante a Conferência de Estocolmo, em 1972, e após 50 anos a Suécia volta a ser anfitriã das discussões promovidas pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Neste ano, o tema Uma só Terra – vida sustentável em harmonia com a natureza traz à tona a necessidade urgente de entender o ser humano e suas organizações em sociedade como fundamentais nesse processo. Na linguagem corporativa, isso significa dar cada vez mais atenção ao S de Environmental, Social, and Corporate Governance, o ESG (sigla para governança ambiental, social e corporativa, no termo em inglês).
Os povos tradicionais e as comunidades rurais que vivem da agricultura familiar são de extrema importância para o equilíbrio ecossistêmico e a diversidade biocultural por deterem e praticarem saberes que regulam e beneficiam os organismos envolvidos nesses processos. É consenso no campo da pesquisa que florestas como a Amazônica só são a fonte de biodiversidade que são hoje graças à interferência e ao manejo benéfico de grupos humanos ao longo dos séculos.
Hoje, restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente na costa do Brasil, segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica e as queimadas na Amazônia aumentaram 82% em relação ao mesmo período de 2018, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) .
Essa realidade põe em ainda mais riscos as pessoas que vivem nas florestas e no campo. São notícias de conflitos por posse e ocupação da terra, explorações ilegais, como o garimpo, avanço do cultivo de monocultura ou pasto como monopólio do agronegócio de grandes produtores, além de violências difíceis de explicar, como o caso recente do grupo Ianomami atacado e desaparecido em Roraima, que pode estar em fuga pela floresta e as casas de agricultores/as familiares queimadas no sul do Pará.
Esses indivíduos, muitas vezes, buscam o fim dessa insegurança abandonando suas tradições e comunidades para viver e trabalhar em fazendas de grandes produtores ou em centros urbanos, com perdas de sua qualidade de vida, de sua autonomia e de seus conhecimentos tradicionais.
A situação é ainda mais complexa se considerarmos que não há sistematização do mapeamento completo das comunidades indígenas, quilombolas e tradicionais, indicando onde vivem e quantos são. O dossiê “Povos tradicionais e biodiversidade no Brasil – Contribuições dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para a biodiversidade, políticas e ameaças,” que está sendo publicado em etapas nos últimos dois anos pela Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência, pretende ser uma fonte de pesquisa de grande valor para quem trabalha com o tema.
Entre os exemplos de como a integração dessas comunidades é benéfica e necessária, está a preservação dos polinizadores, demonstrada no artigo Biocultural approaches to pollinator conservation, que reuniu pesquisas em 15 países, incluindo o Brasil. Os povos tradicionais mantêm o que é chamado de relação de diversidade biocultural, e o texto demonstra que eles têm profundo conhecimento de espécies de abelhas nativas. Prova disso é o fato de que um dos grupos indígenas estudados dá nome a todas as partes do corpo desses animais, essenciais para que plantas se reproduzam e produzam alimentos. De todas as espécies nomeadas por eles, 86% correspondem exatamente à referência científica.
“Embora pôr fim ao desmatamento seja tarefa dos órgãos de fiscalização ambiental, no rol das ações de comando e controle do estado, se faz paralelamente importante pensar outras cadeias econômicas compatíveis com a floresta e, talvez mais do que isso, pensar outras formas de valorarmos as florestas“, como demonstra o VOLUME 3 da Série Amazônia Brasileira, publicada pela Synergia.
Mais do que apenas pensar e implementar políticas que delimitem áreas de conservação, territórios e protejam sua exploração, é preciso incluir povos indígenas e comunidades locais na governança ambiental. Um dos meios para isso é batalhar para que tenham acesso à informação e à justiça e, como demonstra relatório do PNUMA, incorporar seus conhecimentos para melhorar sua qualidade de vida, a conservação, restauração e uso sustentável da natureza e, por consequência, beneficiar a sociedade em geral.
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