Resiliência costeira e sequestro de carbono: entenda a importância dos manguezais

Para as comunidades indígenas, costeiras e ribeirinhas talvez nunca tenha havido dúvidas sobre a importância dos manguezais e para o fato de que a sua proteção pode representar segurança alimentar e a preservação do seu modo de vida e subsistência.

A comunidade científica, que já reconhecia o ecossistema como uma importante fonte de vida, agora também traz evidências da importância dos manguezais contra as causas e os efeitos das mudanças climáticas.

Segundo dados da publicação “Oceano sem mistérios: desvendando os manguezais”, organizada pela Fundação Grupo Boticário, os manguezais auxiliam na proteção e resiliência costeira – reduzindo a força das ondas em 60% quando encontram 100 metros de mangue e, assim, ajudando no enfrentamento do aumento do nível do mar, causado pelas mudanças climáticas. O ecossistema atua, ainda, como defesa natural contra tempestades, tsunamis e erosões.

Além disso, os manguezais funcionam como um filtro para os resíduos e poluentes que vão parar nos mares devido ao descarte incorreto. É importante destacar que, de acordo com a revista Science Advances, mais de mil rios são responsáveis por 80% de toda a poluição que chega ao oceano.

As áreas de mangue também sequestram cerca de 57% mais carbono do que outras vegetações tropicais. Ou seja, atuam de forma relevante na diminuição de gases de efeito estufa na atmosfera. De acordo com a publicação da Fundação Grupo Boticário, a valoração dos créditos de carbono armazenado nos manguezais na Amazônia Oriental pode chegar a U$$4,3 mil por hectare ao ano. Somente no Pará, são estimados valores em torno de R$1,17 bilhão em carbono estocado pelos manguezais, o que representa R$ 5,3 mil por hectare.

A pesquisa também apontou que, embora toda área de manguezal seja oficialmente protegida no Brasil e tida como de preservação permanente – considerando as Leis Federais 9.605/1998, 11.428/2006 e 12.651/2012 e Resolução CONAMA 303/2002 – em 2020, os manguezais ocupavam cerca de 0,13% do país, e 25% do ecossistema já havia sido perdido.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), mais de três quartos dos manguezais do planeta estão em perigo, e o ecossistema está desaparecendo de 3 a 5 vezes mais rápido do que as perdas globais de florestas, com estimativas de que a cobertura de mangue tenha sido reduzida pela metade nos últimos 40 anos.

No Brasil, 16 estados possuem mangues distribuídos em 338 municípios ao longo do litoral, ocupando 6.786 km de áreas entre o oceano e a água doce. Estima-se que o ecossistema possa contribuir com até 50% da pesca artesanal, além de impactar positivamente o turismo nessas regiões. O valor gerado pelos benefícios dos manguezais no país, considerando a pesca e o turismo, é estimado em US$5 bilhões.