Publicado em: 29/03/2022
A igualdade de gênero e a busca por condições cada vez menos desiguais entre homens e mulheres tem sido um tema constante quando falamos sobre a construção de uma sociedade mais justa. O assunto se torna central e assume a frente das discussões quando chegamos ao Mês da Mulher.
Com origem em manifestações de trabalhadoras no início do século XX, o Dia Internacional da Mulher marca o mês de março como um momento de reflexão sobre conquistas e reivindicações por direitos.
No 8 de março deste ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) fez um apelo pela igualdade de gênero e para que o mundo não saia da pandemia em retrocesso nesse âmbito.
A ONU estima que 47 milhões de mulheres tenham sido levadas à pobreza extrema em 2021, como consequência da Covid-19. No Brasil, uma em cada quatro mulheres com mais de 16 anos afirmou ter sofrido algum tipo de violência ao longo de 12 meses, segundo pesquisa realizada no ano passado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública com o Instituto Datafolha.
Como mostram os dados, o caminho para a equidade de gênero ainda é longo. Mas também vale lembrar que muitas conquistas femininas foram obtidas por meio de mobilizações até hoje: o acesso a escolas e universidades, o direito ao voto e a criação da Lei Maria da Penha são alguns exemplos.
Cada mulher deixa sua contribuição para o mundo e colhe o que foi construído por muitas outras. Pensando nisso, para celebrar a data este ano a Synergia decidiu falar sobre legados: “o que se transmite à posteridade“.
A Synergia busca deixar um legado positivo nos territórios em que atua e as mulheres são parte essencial dessa missão, em uma equipe 57% feminina, e na qual elas ocupam 58% dos cargos de liderança. Além disso, muitas são impactadas pelos projetos implementados pela empresa.
Realizamos uma série de entrevistas com mulheres que fazem parte dessa história. Destacamos aqui alguns pontos levantados a partir de seus depoimentos, além de ressaltar aspectos essenciais para a construção de um futuro com mais equidade.
Um dos aspectos da rotina diária no qual as mulheres sofrem consequências da falta de igualdade de gênero é na forma como se deslocam pelas cidades.
Em uma pesquisa realizada em 2021 pelo Instituto Patrícia Galvão e o Instituto Locomotiva, com cerca de 2 mil homens e mulheres, 81% das entrevistadas afirmaram já́ terem passado por ao menos uma situação de violência em seus deslocamentos. As mais comuns foram ser alvo de olhares insistentes e cantadas inconvenientes (69%) e sofrer importunação ou assédio sexual (36%).
A partir de incômodos pessoais por sentir seu direito de ir e vir restringido, Bruna dos Santos Galicho, que atua como coordenadora de Projetos da Synergia, começou a pesquisar sobre como a mobilidade afeta a vida das mulheres. Ela destaca as especificidades existentes nas experiências das mulheres negras:
“Percebi como muitas vezes uma mulher pode deixar de estudar à noite, ou de acessar determinado trabalho, porque vai precisar caminhar por um trecho escuro, do ponto de ônibus até em casa. E como as mulheres vivem isso de maneira muito diferente. Às vezes, achamos que todas enfrentam o mesmo tratamento ao circular na rua, mas sabemos que as mulheres também são diversas, seus corpos são diversos. E eles são assediados de maneiras diferentes”, afirma.
Em seu trabalho na Synergia, realizando pesquisas nos territórios, Bruna prioriza sempre tratar as pessoas com respeito e igualdade. Além disso, ela destaca a amizade com as pessoas com quem convive como seu legado.
As mulheres exercem papel essencial da agricultura, compondo 40% da força de trabalho agrícola em países em desenvolvimento, segundo a ONU. No entanto, lidam com muitos desafios no setor, como o acesso à terra e ao poder de decisão causados pela falta de igualdade de gênero.
Elisangela Trzeciak, produtora de cacau e coordenadora de Projetos na Synergia que atua no Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável (PDRS) do Xingu, afirma que o papel feminino na agricultura costuma ser invisibilizado.
“As mulheres na produção de cacau têm um papel importantíssimo, mas são invisíveis. São os homens que vão vender o cacau, mas são as mulheres que estão lá normalmente fazendo a gestão, anotam quem trabalha, quantos quilos deram, vão com os maridos para a roça. Outras vezes são as gestoras das propriedades, mas é um número muito pequeno. Agora que elas estão começando a assumir um papel mais de protagonistas, mas na maioria das vezes são invisíveis na propriedade”, explica.
Elisangela participa ativamente das políticas pensadas para a região amazônica, de modo a contribuir para que ocorra um desenvolvimento sustentável.
A participação de mulheres na direção de estabelecimentos agropecuários no Brasil cresceu nos últimos anos, segundo o último Censo Agro realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas elas ainda são minoria, passando de 13% do total de produtores em 2006 para 19% em 2017. Para a ONU Mulheres, a igualdade de gênero, justiça social e sustentabilidade no campo precisam estar no centro da recuperação pós-Covid-19.
A Consultora de Estratégia na Synergia Lucia Cavendish defende a urgência da busca por igualdade social. Arquiteta de formação e preocupada com essa questão, trabalhou por cerca de 30 anos com urbanização de favelas por todo o Brasil e em outros locais na América Latina.
“Nós começamos a urbanizar favelas, mas ao mesmo tempo não mudou a desigualdade que impede que uma pessoa de baixa renda tenha acesso a uma localização urbana. Então, as favelas incharam e os recursos empregados em urbanização terminaram se deteriorando. É muito triste, e por isso deixei de trabalhar com favela, enquanto não houver política habitacional“, explica.
Lucia destaca sua postura de garantir que sua imagem reflita exatamente quem realmente é, e de não cultivar o “ter“, mas sim o “ser“. Ela também alerta para a necessidade de atenção às questões ambientais, ressaltando que “a condição humana de sobrevivência no planeta está ameaçada”.
A preocupação se reflete no tema escolhido pela ONU para o 8 de março deste ano: “Igualdade de gênero hoje para um amanhã sustentável”. A organização afirma que as mulheres estão sendo reconhecidas como mais vulneráveis aos impactos da crise do clima e destaca a contribuição de meninas e mulheres que estão liderando a tarefa de adaptação, mitigação e resposta às mudanças climáticas, para construir um futuro mais sustentável.
Os desafios por ser mulher no mercado de trabalho foram um ponto abordado por muitas entrevistadas durante o Mês da Mulher da Synergia. Ainda hoje, são observadas grandes disparidades de gênero no mercado brasileiro: um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou que as mulheres ganhavam cerca de 20% menos do que os homens em 2021. As desigualdades estão presentes no acesso, remuneração e crescimento profissional.
Além disso, as mulheres são prejudicadas pela divisão das tarefas domésticas e de cuidado, que ainda recaem principalmente sobre elas. O cenário desestimula a participação feminina em empregos remunerados e faz com que vivam, em muitos casos, as chamadas duplas ou triplas jornadas.
Entre outros aspectos necessários para reverter o cenário, a ONU aponta a necessidade do reconhecimento da importância das tarefas de cuidado para a vida social e economia dos países e destaca que a igualdade de gênero e a não discriminação no mercado de trabalho são direitos humanos fundamentais.
As desigualdades existentes na sociedade fazem com que as mulheres muitas vezes precisem realizar grandes esforços para conseguir melhores condições para si mesmas e suas famílias.
Durante o Mês da Mulher da Synergia, muitas entrevistadas também fizeram relatos sobre mulheres batalhadoras, que ultrapassam dificuldades e as inspiram como exemplo, as incentivam e se fortalecem entre si.
“Eu cresci vendo mulheres muito fortes. Minha avó materna ficou viúva muito nova, tinha muitos filhos para criar, e vivia com salário mínimo, na roça. Nunca passou fome, conseguia sobreviver. Eu sou uma pessoa forte e a minha fortaleza é como a minha avó materna. A minha família fala que eu sou determinada. Eu tenho deficiência auditiva, mas não é por isso que eu não posso fazer nada. Fui a primeira da família a me formar na faculdade, e depois vieram meus primos”, conta Flaviana dos Reis da Silva, Assistente de Administração de Pessoas na Synergia, que destaca esse seu legado.
A participação feminina na política é um aspecto importante para que sejam promovidas ações que avancem na direção da promoção da igualdade de gênero.
Em fevereiro deste ano, a conquista do voto feminino no Brasil completou 90 anos. Muitas pioneiras são lembradas por terem aberto o caminho para as mulheres na política brasileira. Conheça algumas delas:
– Celina Guimarães Viana: foi a primeira eleitora brasileira, se alistando aos 29 anos, por meio de uma lei estadual de 1927 que permitiu que mulheres votassem no Rio Grande do Norte. Os votos foram invalidados posteriormente, mas a iniciativa ficou marcada na história.
– Bertha Lutz: a bióloga nascida em São Paulo foi uma das fundadoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, na qual lutou pelo voto e outros direitos das mulheres.
– Luíza Alzira Soriano Teixeira: a professora potiguar tomou posse como prefeita de Lajes (RN) em 1929, se tornando a primeira mulher a vencer uma eleição no Brasil e a primeira prefeita eleita na América Latina.
– Antonieta de Barros: educadora e jornalista, foi eleita em 1934, se tornando a primeira mulher a integrar a Assembleia Legislativa de Santa Catarina e a primeira deputada negra do país.
No entanto, décadas depois dessas conquistas, o Brasil ocupa o 145º lugar no ranking da União Interparlamentar que analisa o percentual de mulheres nos parlamentos nacionais.
Ainda há muito a se avançar quando se trata da participação feminina no exercício do poder público e no fim das violências que sofrem quando conseguem ocupar esses cargos.
Alcançar a igualdade de gênero e empoderar mulheres e meninas é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos pela ONU. Em consonância com esse propósito, contribuir positivamente para a vida das mulheres é motivo de orgulho para a Synergia.
Confira os depoimentos de algumas mulheres impactadas pelos projetos realizados pela empresa:
– Janine Pereira Gonçalves, 43 anos, síndica do Residencial Lavras, no qual vivem 1460 famílias, em Guarulhos (SP):
“Quando entrei como síndica, peguei o condomínio com uma inadimplência de quase meio milhão de reais. A Synergia esteve aqui dentro na época e me ajudou muito. Ela conseguiu reunir, junto com os parceiros, uma massa de órgãos públicos e fez uma reunião para podermos expor nossas dificuldades. Na época, a gente ficava até dez dias sem água, e agora não temos mais esse problema. (…) Hoje me sinto uma mulher empoderada. Vou atrás dos meus objetivos, através dos conselhos, por causa de toda essa equipe que esteve aqui.”
– Jumara Santos dos Anjos, 33 anos, conselheira tutelar e trabalha com panificação, participa de trocas de saberes na comunidade quilombola do Retiro de Mangaraí, em Santa Leopoldina (ES):
“Eu venho de uma família em que as mulheres são mais vistas como batalhadoras, porque o que sobrou foi o trabalho braçal, onde estamos sempre presentes. Veio da minha avó, para a minha mãe, que hoje é quem sustenta a casa dela, minhas irmãs. E eu sempre trabalhei. Então na nossa família as mulheres estão sempre correndo atrás e vejo que devíamos ser mais valorizadas. Nessas trocas de saberes é onde temos notado que temos que nos empoderar mais. Porque temos feito o mesmo que os homens.”
– Aylla Sousa Pontes, 18 anos, e Ryang Gomes Oliveira, 19 anos, participaram do programa de promoção da saúde e educação sexual em Canaã dos Carajás (PA), no qual também apresentavam uma peça teatral sobre abuso sexual:
“Essa peça marcou bastante porque aonde a gente chegava para se apresentar não tinha como as pessoas não se emocionarem. Uma vez, uma moça chegou para falar com a gente chorando muito, falando que já tinha passado por isso, e que não conseguia falar aquilo com ninguém. E através da peça ela conseguiu chegar na gente, conversar.” (Aylla)
“Foi muito marcante, porque trata de assuntos que foram muito importantes e são até hoje. (…) Um jovem ter essas informações ajuda muito na prevenção de uma gravidez indesejada na adolescência, evita pegar DST, IST. Porque a maioria dos adolescentes não tem a informação dentro de casa, às vezes tem como tabu. E não é um tabu, é algo que precisa ser conversado.” (Ryang)
– Marlucia Alves da Costa, 33 anos, costureira, participou do projeto de confecção de máscaras de proteção contra a Covid-19, no município de Barcarena (PA):
“No momento em que a pandemia começou e os recursos ficaram apertados, eu estava morando em uma casa que não era minha. Quando entreguei o primeiro kit de máscaras e o primeiro valor caiu na minha conta foi uma alegria, porque com ele consegui pagar o telhado da minha casa, que estava em construção. (…) Passei a me ver nesse ângulo de que eu era capaz de ajudar o meu esposo a construir a nossa casa. Ver o fruto do meu talento. Posso dizer que sou uma mulher determinada e que daqui para a frente eu consigo fazer o que vier nas minhas mãos.”
Confira a playlist com os depoimentos individuais e o vídeo completo com os principais trechos dos depoimentos das mulheres que participaram da campanha Mês da Mulher Synergia 2022 – Legados:
E não deixe de assistir à Live “Incentivo à equidade e ao empreendedorismo feminino”, com Maria Albuquerque, fundadora e CEO da Synergia Consultoria, e Andrea Alvares, vice-presidente de Marca, Inovação, Internacionalização e Sustentabilidade da Natura.
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