Publicado em: 07/11/2023
O Dia da Floresta e do Clima tem o objetivo de reforçar a importância da Floresta Amazônica e das ações para a redução de emissões de gases de efeito estufa provenientes de seu desmatamento, como medidas para a contenção das mudanças climáticas.
A data, comemorada no dia 07 de novembro, foi criada em 2007 pela promulgação da Política Estadual sobre Mudanças Climáticas, Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas.
Em 2023, com o aumento das temperaturas locais e a seca sem precedentes que levou ao rebaixamento recorde dos Rios Madeira, Negro e Solimões, na região do Amazonas, comemorar esta data pode parecer contraditório diante dos potenciais efeitos dos eventos climáticos agravados pelas mudanças do clima, que acontecem não só em diferentes estados brasileiros, mas também ao redor do mundo.
Quando pensamos sobre eventos extremos, tais como a seca na Região Norte, ou como o grande volume de chuvas que atingiram a Região Sul do país, devemos ter cuidado em associá-los imediatamente às mudanças climáticas, pois essa afirmação exige uma validação científica que, até o momento, não foi publicada para esses dois casos.
Não obstante, é consenso apresentado pelo Painel Intergovernamental em Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), em seu Relatório Síntese de 2023, que mudanças no sistema climático, como eventos extremos, serão maiores e mais frequentes com o aumento da temperatura terrestre provocada pelo efeito estufa.
Em entrevista à BBC, o pesquisador e meteorologista do CEMADEN, Giovanni Dolif, afirma que a grande seca presenciada no norte do país ainda não pode ser relacionada com mudanças climáticas, mas é um evento compatível com aqueles que ocorrem com o aumento da temperatura terrestre.
Ainda segundo Dolif, um dos fatores preponderantes para o desenho do cenário atual vivenciado nas Regiões Norte e Sul do país é a ocorrência concomitante de dois fenômenos atmosférico-oceânicos que ocorrem esporadicamente: o aquecimento das águas do Oceano Atlântico Norte, que leva à seca na Região Norte do país, conhecido como Dipolo do Atlântico, e aquele conhecido como El Niño.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o El Niño ocorre quando há o aquecimento do Oceano Pacífico Equatorial devido ao enfraquecimento dos ventos alísios da região equatorial, que não conseguem dissipar a água quente superficial. Tal efeito pode provocar o aumento da intensidade de chuvas no sul do país e aumento da temperatura e seca nas Regiões Norte e Nordeste.
A conjunção dos fenômenos climáticos que ocorrem naturalmente, El Niño e Dipolo do Atlântico Norte, somados ao aumento médio da temperatura global – provocado pelo efeito estufa – criaram um cenário sem precedentes para a região amazônica.
A situação atual enfrentada na Região Norte do país pode estar sendo agravada pela perda de área florestada, provocada, sobretudo, por desmatamento e queimadas.
Existem duas relações entre os eventos: a primeira é que a mudança do uso do solo, ou seja, a transformação da floresta (que é uma reserva de carbono) em pastagem ou monoculturas por meio do desmatamento e grilagem da terra, faz com que a área emita gases de efeito estufa (GEE), ao invés de absorvê-los. Como maiores emissões de GEE contribuem para o aquecimento da região e do planeta, isso pode piorar crises como as atuais.
A segunda relação é que a remoção da mata resulta em um desequilíbrio no clima regional. A transpiração das plantas faz com que grande quantidade de água seja lançada no ar, aumentando a umidade da região e formando nuvens de chuva. Sendo assim, quanto menos floresta, menor é a sua capacidade de contribuir com o regime de chuvas locais.
Por meio de uma conta aproximada, utilizando como referência o banco de dados TerraBrasilis, do INPE, é possível verificar que desde 2007 –- ano em que o foi criado o Dia da Floresta e do Clima – até o final de 2022, foram desmatados 13,5 milhões de hectares de floresta presente no território classificado como Amazônia Legal. Este dado, além de mostrar que a preocupação com a manutenção da floresta em pé é legítima, nos indica que apenas a comemoração de um dia não é o suficiente para garantir que pessoas, animais e plantas não sofram com os impactos das mudanças climáticas e de seus eventos extremos.
A ação é urgente, 2023 está sendo um ano repleto de discussões e acordos relacionados ao território amazônico. A sociedade civil precisa participar ativamente dos encontros em que há tomada de decisões, das consultas públicas, denunciar as irregularidades e pressionar os/as representantes eleitos/as para que os compromissos sejam levados a sério.
Texto elaborado por Jordi Gimbernau Gimenez,
Analista de Sustentabilidade da Synergia Socioambiental
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