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Desastre no Rio Grande Sul: quanto custa ficar de braços cruzados

Publicado em: 24/06/2024

Uma tragédia climática de proporções faraônicas, como o recente desastre no Rio Grande do Sul, que está longe de chegar ao fim, custou centenas de vidas. Afetou direta e indiretamente cerca de 2,3 milhões de pessoas. Estes números, por si só, já são suficientes para que medidas de mitigação e adaptação, conforme recomenda o Ministério do Meio Ambiente, sejam imediatamente tomadas.

Entretanto, este custo vai além. Bate nos cofres do Estado, dos municípios e do governo federal. No limite, todos e todas nós acabamos pagando caro pela falta de políticas públicas que poderiam evitar uma tragédia como esta.

O Brasil gasta três vezes mais com atendimento a desastres do que gastaria com prevenção. Em 2023, mais de 5,8 milhões de brasileiros e brasileiras foram prejudicados/as por chuvas e secas, de acordo com a Confederação Nacional dos Municípios, e o país sofreu em prejuízo de R$50,5 bilhões na economia.

No mundo, os custos para resposta e recuperação aos desastres naturais superam US$2 trilhões desde 1980. Em 2022, as perdas por catástrofes naturais foram de US$313 bilhões, sendo que, aproximadamente, US$132 bilhões eram assegurados, enquanto o restante foi utilizado adicionalmente para garantir a lacuna global para a proteção ambiental.

Não há como esperar mais

Os municípios brasileiros estão muito atrasados em políticas públicas e planos climáticos que os preparem para os impactos climáticos globais. Os motivos alegados são vários: falta de recursos, falta de capacidade. Mas o pior deles é o não entendimento da importância da pauta ambiental na prevenção de riscos e na contenção de gastos e prejuízos.

Há quem diga que eventos extremos sempre ocorreram no planeta, que são naturais e seguirão ocorrendo. Sim, é verdade. Porém, é preciso considerar que, com a aceleração do aquecimento global, estes eventos ficaram mais frequentes, com a intensidade muito maior. Por que? Ora, o planeta é um sistema integrado. Se uma estrutura é alterada, como o excesso de carbono na atmosfera, todo o sistema mundial será afetado, especialmente quando falamos de processos geológicos e climáticos.

Casas destruídas na ilha da Picada após chuvas e novos alagamentos. Foto: Bruno Peres / Agência Brasil

Tomando como exemplo o Rio Grande do Sul: as cinco maiores cheias do rio Guaíba ocorreram nos últimos oito anos e com uma intensidade muito maior se comparadas aos anos anteriores. Neste ano de 2024, a tragédia fez com que o Guaíba subisse 5,33 milímetros, lembrando que as chuvas não estavam concentradas apenas em Porto Alegre, mas em quase todo o Estado. Isso superou qualquer outra tragédia anterior.

O que antes eram eventos considerados pontuais, esporádicos e mais espalhados e espaçados pelo mundo, atualmente acontecem todos os anos e em muitos lugares. Já existe um consenso científico mundial: grandes secas, inundações, ondas extremas de calor, crises hídricas e deslizamentos estão diretamente ligados à agenda climática.

O desastre do Rio Grande do Sul ainda não acabou. Continua chovendo. Mas o que é possível fazer?

Os municípios que foram afetados pelo desastre no Rio Grande do Sul agora precisam criar políticas, planos e estratégias que levem a caminhos melhores e mais seguros. Isso depende apenas dos tomadores de decisão e do acompanhamento dos munícipes.

Há uma oportunidade agora de se fazer uma reconstrução inteligente, que não repita os modelos produtivos e infraestruturas convencionais, dadas como frágeis e insustentáveis.

Esses planos e ações exigirão um olhar apurado. Será preciso criar cidades inteligentes com ordenamento do solo, evitando construir em áreas de risco e respeitando as proteções ambientais necessárias, como áreas de preservação permanentes, reservas legais, proteção de florestas e restauração a áreas degradas, criando espaços para o rio e se baseando na natureza para criar soluções, com a criação de uma agropecuária mais resiliente e sustentável.

Pessoas aguardam por doações na ilha da Picada após chuvas e novos alagamentos. Foto: Bruno Peres / Agência Brasil

Sistemas de monitoramento das águas e do clima mais rigorosos deverão entrar em ação, assim como uma manutenção contínua dos diques e barragens a serem construídas. Também devem ser criados sistemas de fundos financeiros que garantam seguros para pessoas, empresas e produtores/as em caso de emergências.

A inclusão de educação climática e ambiental para adultos e transversal nas escolas será fundamental para evitar a disseminação de informações falsas e sensibilizar a população sobre o tema e como ser preparar para emergências.

E mais do que isso: será preciso criar um modelo sustentável, como as cidades esponjas ou cidades com soluções baseadas na natureza, que propõe uma infraestrutura verde e sustentável e duradoura, baseada em um balanço hídrico artificial capaz de absorver, reter e liberar a chuva, de forma que ela retorne ao ciclo natural da água sem causar estragos.

Não adianta lutar contra a força da água. O melhor é recuperar a capacidade natural que o planeta tem de reter essa água quando ela cai do céu. Esta solução já está na natureza – só precisamos olhar para ela.

Texto baseado em artigo assinado por Gabriela Goulart de Oliveira, Gerente de Gestão Socioambiental da Synergia.

11 – Cidades e comunidades sustentáveis
13 – Ação contra a mudança global do clima

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