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Entenda como a conscientização sobre as mudanças climáticas pode ter impacto na justiça climática para populações vulneráveis

Publicado em: 16/03/2022

O processo de conscientização sobre as mudanças climáticas e os danos que causam ao meio ambiente tem se intensificado nos últimos anos.

Com os efeitos do aquecimento global e da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, entre outros fatores relacionados às mudanças climáticas, os desastres relacionados ao clima ficam cada vez mais evidentes e chamam a atenção para o que pode acontecer com o futuro do planeta.

Um exemplo da atenção que o tema vem recebendo foi visto recentemente, durante a COP26, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. Poucas vezes na história dos movimentos ambientais e das manifestações contra a degradação do planeta tivemos uma participação tão intensa de jovens, que realizaram protestos tanto presencialmente (em Glasgow, onde estava sendo realizado o evento) quanto ao redor do mundo.

Eles e elas se mostraram dedicados/as e não pouparam esforços para cobrar de governantes, chefes de Estado e de líderes mundiais as mudanças efetivas e o cumprimento das promessas ambientais que têm sido feitas desde a COP21 e o Acordo de Paris.

O envolvimento das gerações mais novas surtiu alguns efeitos no processo de conscientização sobre as mudanças climáticas: além de uma massiva presença e divulgação do tema na internet, estimulou a intensa cobertura da imprensa global.

Entretanto, neste caso, não é possível dar crédito apenas ao empenho da juventude. Especialistas indicam que a maior cobertura de imprensa já realizada para um evento ambiental como a COP26 pode ter tido outros motivos além das manifestações.

A proximidade com a realização da reunião de cúpula do G20 foi apontada como uma das razões para o aumento da presença da imprensa e da produção de conteúdos sobre a COP26. Isso porque na reunião do G20, onde são debatidos importantes temas relacionados à economia global, as discussões sobre as mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável tiveram grande ênfase.

Foto: Adobe Stock

Vale destacar que, juntos, os países participantes do G20 concentram 80% do PIB global, e são responsáveis por 80% das emissões de gases de efeito estufa no planeta. Logo, era importante para a imprensa estar atenta e acompanhar o comportamento desses líderes em relação aos temas propostos também na COP26, que começou no dia seguinte ao G20 e em um local bem próximo, facilitando o deslocamento.

Outros motivos para a maior cobertura da imprensa, segundo os especialistas, podem ter sido a tentativa de combater a desinformação, as fake news e um dos principais fatores: o negacionismo climático – ceticismo em relação aos efeitos das mudanças climáticas, sobre a possibilidade de reversão e, em alguns casos, até quanto da existência delas.

A corrente de pensamento, que vem se tornando muito presente, mesmo em um cenário de maior conscientização sobre as mudanças climáticas, é um problema quando todas as pessoas têm passado por situações que envolvem tão claramente os impactos dessas mudanças.

Mas as consequências das mudanças climáticas são iguais para todas as pessoas?

Justiça climática e as desigualdades sociais

No processo de conscientização sobre as mudanças climáticas, precisamos compreender que todas as pessoas no mundo são afetadas por elas. Mas as consequências podem ser muito diferentes quando consideramos as condições de vida e a vulnerabilidade das populações atingidas.

O movimento por justiça climática é recente, e adota uma transformação de visão em relação aos impactos ambientais: passa a entender as mudanças climáticas também como uma questão de justiça social, considerando os públicos mais afetados por elas.

Conscientização sobre as mudanças climáticas_ manifestação pelo clima
Manifestações por justiça climática aumentaram nos últimos anos. Foto: Climate and Society

A justiça climática busca expor como países e populações mais pobres estão mais vulneráveis aos impactos causados pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas, mesmo quando não são os maiores responsáveis pelos fatores de degradação ambiental.

Além disso, esses países são os que possuem menores condições de apoiar suas populações no enfretamento aos desastres climáticos, que causam milhares de mortes e trilhões em perdas monetárias anualmente.

Aqui também é importante destacar que os grupos étnicos, as mulheres e as crianças são os que mais sofrem com as desigualdades e a falta de justiça social, sendo os grupos mais afetados pela pobreza e pelos impactos das mudanças climáticas.

Segundo relatório de 2020, do Institute for Economics and Peace (IEP), 1,2 bilhão de pessoas podem ser forçadas a se deslocar, dentro do próprio país ou para outras nações, até 2050 devido à crise climática. O deslocamento representa riscos de violência e morte, principalmente para mulheres e crianças.

A informação como chave para conscientização sobre as mudanças climáticas

Quando destacamos o papel da imprensa na cobertura da COP26 e dos meios de informação na constante divulgação sobre as mudanças climáticas, é porque eles são essenciais no processo de conscientização.

Durante o evento, a organização fez um apelo para que as coberturas realizadas não deixassem de focar nos impactos ambientais locais e nas questões sociais que as mudanças climáticas podem ocasionar, principalmente para as populações mais vulneráveis.

A própria organização da COP26 sugeriu uma abordagem que considerasse a justiça climática, considerando tópicos como o racismo ambiental, a falta de equidade de gênero e as diferenças entre países mais ricos (e mais poluidores) e os mais pobres (mais afetados pelas mudanças climáticas).

Vale destacar que o tema da compensação e do financiamento climático foi um dos que gerou maior frustração, por não ter avançado tanto quanto poderia, ou tanto quanto era necessário. Os países mais desenvolvidos recusaram a proposta de criação de financiamento para perdas e danos causados pelas mudanças climáticas para os países mais vulneráveis.

Com exceção da Escócia e da Bélgica, que se comprometeram a fazer uma doação à parte, e de algumas empresas que se ofereceram para realizar financiamentos independentes, as propostas não progrediram muito.

Dessa forma, grande parte dos países mais desenvolvidos não se comprometeram a contribuir com mais verba para ajudar os países em desenvolvimento a se adaptarem para evitar os danos causados pelas mudanças climáticas.

Isso também implica no fato de que os países em desenvolvimento, com menores condições financeiras de investir em sustentabilidade para o crescimento, podem se tornar grandes poluentes.

Ou seja, o esforço precisa ser mundial e conjunto, ou não conseguiremos limitar as mudanças climáticas, reverter seus efeitos ou alcançar a justiça climática.

Para além das medidas e ações realizadas na COP26 e nos futuros eventos que podem ser decisivos para evitar o aquecimento global e suas consequências, um dos principais fatores que precisamos considerar é o acesso à informação.

Ter conhecimento sobre os impactos, e de como é possível minimizá-los ou revertê-los, é importante para que todas as pessoas possam ter em comum tanto a luta pelo reconhecimento dos seus grupos, e o entendimento de como são afetados de modos diferentes, quanto a possibilidade de cobrar mudanças das autoridades responsáveis.

Assim, ficamos mais próximos da justiça climática e das medidas para evitar as mudanças climáticas.

10 – Redução das desigualdades
13 – Ação contra a mudança global do clima

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