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O semiárido frente à desertificação e seca: quais as possíveis soluções?

Publicado em: 17/06/2024

O semiárido é uma região caracterizada pela presença de plantas que realizam evapotranspiração de forma intensa (como cactos, bromélias e leguminosas), além da ocorrência de chuvas irregulares. Essas chuvas são intensas e desenvolvidas por fenômenos meteorológicos denominados monções torrenciais, que provocam cheias em rios e lagos.  

O semiárido brasileiro ocorre, predominantemente, no bioma Caatinga. Engana-se quem afirma que essas regiões são totalmente inóspitas. Segundo o Instituto Nacional do Semiárido (INSA), o bioma tem onze mil espécies vegetais catalogadas. Além da flora, a Caatinga tem cerca de 1.400 espécies animais, dentre as quais 327 são exclusivas da região. 

Quantidade de espécies na Caatinga
Cutia, uam das espécies encontradas na Caatinga. Fotomontagem com imagem INSA e AdobeStock

Como o semiárido brasileiro predomina em sua maior parte na Caatinga, é importante compreender porque esse bioma é tão significativo. De acordo com a Embrapa, florestas tropicais sazonalmente secas, como a Caatinga, são consideradas sumidouros de carbono. 

Em outras palavras, as plantas da caatinga servem como depósitos naturais que absorvem e capturam o CO₂ da atmosfera. Com isso, reduz sua presença no ar, atenuando implicações para o clima local, regional e global. 

Problemáticas que atingem o semiárido brasileiro e como elas surgem 

Ultimamente, o semiárido brasileiro vem sofrendo com problemáticas que não são exclusivas do Brasil: a desertificação e a seca. De modo a facilitar o estudo e monitoramento do semiárido, o Plano Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN) denominou as áreas vulneráveis no Brasil como áreas suscetíveis à desertificação (ASDs). 

As ASDs do Brasil possuem cerca de 1.340.000 km², distribuídas em 1.488 municípios nos nove estados do Nordeste, norte de Minas Gerais e norte do Espírito Santo. Uma publicação do Banco do Nordeste, em parceria com a Embrapa Semiárido, afirma que essas problemáticas têm causas ambientais, devido às chuvas irregulares, e socioeconômicas. 

Um exemplo de causa socioeconômica é o fato do Nordeste possuir, aproximadamente, 2.187.295 propriedades localizadas em ASDs. Segundo o IBGE, essas propriedades são responsáveis por 87% da produção de mandioca e 67% da produção de leite de cabra do país, além de outros produtos naturais. Contudo, por estarem em ASDs, o impacto sobre a terra acentua ainda mais a degradação de regiões do semiárido. 

Somado a isso, também são causas da desertificação e seca, caso utilizem modelos não sustentáveis para com o meio ambiente: 

  • Pastoreio: forma de conduzir animais pelo pasto, por exemplo, para se alimentarem; 
  • Agricultura: responsável pelo plantio e cultivo de alimentos; 
  • Extrativismo mineral: exploração de minérios do solo e rios; 
  • Extrativismo vegetal: consiste na exploração de matéria-prima de origem vegetal, a exemplo de lenha a partir de queimadas. 

É válido elucidar que, quando as chuvas encontram o solo sem proteção vegetal, provocam grandes perdas de nutrientes e o próprio solo é movido para áreas impróprias. Além disso, a maior frequência de eventos como secas extremas, a partir das mudanças climáticas, potencializa a desertificação do semiárido. 

Cactos fazem parte da vegetação do semiárido. Foto: Adobe Stock
Caatinga tem onze mil espécies vegetais catalogadas. Foto: Adobe Stock

Estratégias utilizadas para conservar o semiárido 

Desde 2010, o Observatório Nacional da Dinâmica da Água e do Carbono no Bioma Caatinga (ONDACBC), coleta dados meteorológicos em várias torres de fluxo localizadas em municípios de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Com esse fato, o monitoramento revelou que ao longo de quase dez anos, a Caatinga retirou da atmosfera uma média de 5,2 toneladas de gás carbônico (CO2) por hectare ao ano. 

O Instituto Nacional do Semiárido (INSA) também desenvolveu uma ferramenta computacional que monitora a desertificação por meio de índices multidimensionais. Os índices econômicos, sociais, ambientais e institucionais apontam áreas mais suscetíveis, com maior pressão, maiores impactos e com algum nível de mitigação de seus efeitos. 

No semiárido há projetos de conservação, a exemplo do No Clima da Caatinga, patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental. O projeto planta milhares de mudas de espécies nativas, e realiza ações de educação e conservação ambiental com a população. 

O projeto auxiliou no sequestro de 615 mil toneladas de CO2, manutenção de serviços ecossistêmicos e segurança hídrica na região. Essas atividades podem ajudar a desacelerar o aquecimento global ao utilizar um modelo integrado de conservação do semiárido. 

Outra estratégia que pode ser utilizada é a recuperação de áreas degradadas por recomposição da matéria orgânica do solo. Essa técnica restabelece a funcionalidade do ecossistema. O adubo protege o solo da erosão laminar (remoção de camadas do solo pela água da chuva) e melhora a retenção de água. 

Unidades de Conservação (UCs) no semiárido brasileiro 

Sem dúvidas, a manutenção das unidades de conservação do semiárido é uma das maneiras mais eficazes para atenuar os impactos. Há mais de 160 unidades de conservação na Caatinga: 45 de proteção integral, 51 de uso sustentável e 72 Reservas Particulares de Patrimônio Natural. 

Contudo, pesquisadores da UFBA identificaram novas áreas prioritárias para a conservação de espécies animais da caatinga. Recentemente, a Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e de Fernando de Noronha de Pernambuco (Semas-PE) também divulgou informações sobre o projeto “Criando Unidades de Conservação para o Semiárido” financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). 

O projeto objetiva criar seis novas UCs na Caatinga, no semiárido pernambucano. Mesmo estando em análise, o projeto tem potencial de auxiliar na conservação do bioma, que é único no mundo, exclusivamente brasileiro. 

área de áreas prioritárias de conservação da Caatinga. Foto: IBGE/Edgar Digital
Semiárido é o clima predominante da Caatinga. Foto: IBGE/Semanário Edgar Digital

Apesar de ainda haver negligências para com o semiárido brasileiro, cada pessoa pode contribuir com essa região, divulgando informações a respeito do bioma e auxiliando ONGs dentro do que for possível. Faça sua parte! 

 

Saiba mais: com ameaça de desertificação, restauração da Caatinga é fundamental para proteção da biodiversidade. 

13 – Ação contra a mudança global do clima

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