Publicado em: 27/07/2022
Embora fundamentais, os manguezais estão deixando de existir por falta de medidas de proteção mais rígidas e de cumprimento efetivo das leis, além de diversos outros fatores ambientais que veremos a seguir.
As consequências para o meio ambiente e para todos e todas nós, que somos parte dele, podem ser muito maiores do que normalmente imaginamos quando pensamos em manguezais – um dos ecossistemas que costumavam ser mais subestimados.
Mediante o cenário alarmante de desaparecimento, diversas iniciativas para a preservação dos manguezais têm ganhado espaço, impulsionadas principalmente pela Década das Nações Unidas (ONU) para a Restauração de Ecossistemas. Com a Década, a ONU investiu em diversos programas de restauração de mangues ao redor do mundo, que têm chamado a atenção para a nossa relação com o ecossistema e para a sua importância.
Dessa forma, os últimos anos foram marcados por um número muito maior de pesquisas dedicadas a entender e expor dados importantes para que governos e organizações se empenhem mais na preservação dos seus manguezais. O objetivo é interromper, o quanto antes, a degradação dos mangues e desenvolver processos cada vez mais eficientes para a recuperação e preservação desses ecossistemas.
Os manguezais são aliados na batalha contra o dióxido de carbono (CO2) presente na atmosfera, um dos principais responsáveis pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas. De acordo com dados divulgados pelo Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma), os mangues absorvem até cinco vezes mais CO2 do que outros ecossistemas e florestas. Ou seja, o desaparecimento desse ecossistema é um fator que causa impacto ao meio ambiente de forma geral.
Mas as comunidades que dependem diretamente dos mangues, como as populações ribeirinhas para as quais ele é fonte de alimento e renda, são as que mais sofrem a perda: o desaparecimento acelerado dos manguezais pode representar também o desaparecimento delas. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), 120 milhões de pessoas no mundo dependem desse ecossistema para a sua subsistência.
O Brasil, por exemplo, concentra 12% dos manguezais do mundo. De acordo com dados da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), há manguezais em 338 municípios brasileiros, abrangendo uma área onde vivem cerca de 44 milhões de pessoas. A estimativa é de que o ecossistema gere em torno de R$20 bilhões em benefícios econômicos no país.
No entanto, recentemente, em um dos momentos em que os manguezais nacionais estiveram sob grande risco, o Conselho nacional do Meio Ambiente (Conama), em 2020, derrubou resoluções relacionadas à preservação ambiental que afetavam diretamente o ecossistema. A resolução nº 303/2002, a principal delas, regulamenta a proteção de restingas, manguezais e outras áreas de proteção permanente (APPs), restringindo o desmatamento e a ocupação nessas áreas.
Em 2021, o Superior Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucional a norma que revogou a proteção das dunas, restingas e manguezais, desfazendo a decisão que teria sido considerada um retrocesso na proteção ambiental.
Embora tenha ocorrido a revogação, especialistas apontam que a proteção do ecossistema costeiro ainda está em constante risco, considerando que, mesmo que existam leis voltadas para proteger os manguezais, a falta de fiscalização e de medidas de recuperação ainda são problemas que estão longe de serem solucionados.
De acordo com reportagem do InfoAmazonia, os manguezais cobrem 11,2 mil km² do Amapá, Pará e Maranhão, totalizando uma área equivalente a oito vezes a cidade de São Paulo. A Amazônia concentra 80% dos manguezais brasileiros e, assim como outros ecossistemas do bioma, os manguezais também sofrem com a ameaça do desmatamento.
Embora grande parte do ecossistema na Amazônia seja encontrada em unidades de conservação, fatores como a poluição por esgotos e químicos lançados nos rios e o crescimento urbano e industrial de forma desordenada também causam impactos para o ecossistema. A reportagem indica, ainda, que a mineração, a abertura de estradas, a criação de camarões e a pesca descontrolada também afetam manguezais e, consequentemente, as populações que precisam dele para garantir o seu sustento.
A Amazônia Brasileira desempenha um papel importante quando tratamos da existência e preservação dos manguezais no Brasil. E, recentemente, mais uma descoberta sobre o bioma chamou a atenção em relação aos seus manguezais.
Embora as águas dos manguezais sejam normalmente constituídas pela mistura da água doce do rio com a água salgada do mar, resultando na água salobra característica do mangue, recentemente pesquisadores/as realizaram uma descoberta inusitada em relação ao ecossistema no Brasil.
Em pesquisa inédita, divulgada no dia 20 de julho de 2022, pesquisadores/as da National Geographic e da Rolex Perpetual Planet Amazon Expedition confirmaram a presença de manguezais de água doce na bacia do Rio Amazonas. Em entrevista sobre a descoberta, Angelo Bernardino, pesquisador e professor do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) que participou da expedição, apontou que encontrar um ecossistema adaptado foi algo muito especial. Segundo ele, “Talvez 99% dos manguezais do Brasil se desenvolvam em solos com alta salinidade, em estuários e áreas marinhas. No delta a gente tem o maior rio do mundo criando essas condições especiais [para o manguezal doce]. É muito especial ver isso, um ecossistema adaptado como provavelmente não existe em nenhum outro lugar do mundo”.
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