Publicado em: 31/08/2021
A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou este ano como o de início oficial da Década da Restauração de Ecossistemas, que se encerrará em 2030 – mesma data limite para o cumprimento da Agenda 2030 e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Embora a Organização divida os seus esforços entre o incentivo para o alcance de todas as metas propostas, e a garantia de que elas estejam ligadas entre si, os Objetivos que mais têm se destacado são os relativos à preservação da vida terrestre, da vida na água e na ação contra a mudança global do clima e todos os impactos relacionados.
Afinal, atingimos níveis de degradação ambiental e extinção de espécies considerados sem precedentes. A destruição do planeta segue em ritmo acelerado, ameaçando ecossistemas, biodiversidades e todas as formas de vida. Mais do que parar a curva de degradação e preservar o meio ambiente, nunca foi tão necessário investir na sua restauração.
Com o avanço do consumo dos recursos naturais, estima-se que apenas os processos de preservação não serão suficientes para evitar um eminente colapso nos sistemas produtivos.
O relatório “Tornando-se #GeraçãoRestauração: restauração de ecossistemas para pessoas, natureza e clima”, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), aponta que os países precisam se comprometer a executar planos de ação voltados à restauração dos ecossistemas do planeta para mitigar os impactos da tripla ameaça: Mudanças Climáticas, a Perda da Natureza e a Poluição.
O cenário ambiental contemporâneo é preocupante, e o caminho para a restauração de ecossistemas é repleto de desafios. Mas ainda é possível ser otimista e se pensar em soluções para a reparação dos impactos socioambientais causados pela degradação.
Essa é a conclusão das/do especialista(s) que participaram da Live “Socioambiental em Pauta: Soluções e desafios da restauração de ecossistemas”, realizada pela Synergia Consultoria em parceira com o Instituto Terra e a SOS Mata Atlântica.
Convidamos para essa importante conversa:
Graduada em Ciências Exatas e Biológicas e em Administração de Empresas, Isabella conta com mais de 25 anos de experiência. Já atuou em grandes organizações nacionais e internacionais, e está à frente da diretoria do Instituto Terra desde 2016.
Geógrafo de formação, especialista em manejo de bacias hidrográficas, Mario atua na área ambiental há mais de 40 anos. Há 32 anos na SOS Mata Atlântica, ele já ocupou os cargos de superintendente, diretor de Políticas Públicas, e atua na Frente Parlamentar Ambientalista.
Doutora em Estruturas Ambientais Urbanas, Mestre em Sociologia do Trabalho e graduada em Ciências Sociais. Maria possui mais de 25 anos de experiência em planejamento de políticas públicas e de responsabilidade social e empresarial.
Confira o vídeo completo da Live “Socioambiental em Pauta: Soluções e desafios da restauração de ecossistemas” e fique por dentro do tema!
Agora você confere um resumo dos principais temas abordados durante o encontro.
Considerando o cenário político, social e econômico do Brasil, na opinião de vocês, qual é a maior ameaça para o Meio Ambiente? Quais as consequências sociais e soluções viáveis em andamento?
Isabella: Pensando nesse Brasil de hoje, entendo que o que temos de mais difícil é o negacionismo que estamos vivendo, o fato de que as situações estão gritantes no nosso dia a dia e, mesmo assim, existe um modo de pensar dessas pessoas que não estão vendo que o tempo de agir é agora. Aliás, o tempo de agir deveria ter sido há 20 anos. Mas se não foi, a gente tem que começar agora, porque nós temos que defender o que resta, tomar atitudes que procurem buscar o engajamento da sociedade. Como aponta o relatório [da ONU], se não agirmos agora, não vai dar mais tempo. A conexão entre os seres humanos e o bioma é fundamental e nós dependemos disso.
Maria: Eu diria que é a própria crise climática, uma tarefa urgente que se coloca para a humanidade. Um dos aspectos que provocam esse problema ambiental tem a ver com o crescimento populacional. Se mantivermos o ritmo de crescimento de hoje, até 2050 serão 9,5 bilhões de habitantes no mundo. O Brasil abriga os principais ecossistemas tropicais e quase 1/4 dos recursos hídricos do planeta. Mas a gente soma ao problema da ocupação desenfreada a questão do consumo irracional e da ocupação de áreas protegidas por populações muito vulneráveis.
Mario: Nosso maior problema está sendo o desmonte de toda a institucionalidade que conseguimos. Perdemos o protagonismo e estamos vendo o desmonte do arcabouço que foi construído, a duras penas, e que colocou o Brasil no patamar mais elevado entre as nações pela capacidade e patrimônio ativo natural que temos. Ninguém tem a biodiversidade que nós temos e estamos perdendo o protagonismo desse mundo.
Estudos mostram que as florestas possuem mais valor econômico quando estão de pé. A bioeconomia e os sistemas agroecológicos têm sido apontados não só como uma solução de preservação ambiental, mas de desenvolvimento econômico. Por outro lado, existem críticas ao fato de que não se deve atrelar valores econômicos a recursos naturais, pois isso abre espaço para um jogo de compensações ambientais dificilmente regulável.
Qual a visão de vocês sobre a exploração sustentável, se é que podemos chamar assim, dos recursos naturais?
Maria: A reflexão sobre se a exploração sustentável é viável ou não, é porque esse conceito está aberto às chamadas compensações ambientais, onde um determinado gasto ambiental é trocado por um ganho equivalente. Esse conceito é questionado devido a uma suposta falta de confiabilidade nos critérios de valoração dos recursos naturais. Há também um grande debate sobre o papel das tecnologias na utilização eficiente dos recursos e não há consenso.
A substituição do modelo de desenvolvimento vigente por um modelo de exploração sustentável de recursos não é uma tarefa para um único país e uma única comunidade. É uma tarefa que requer uma cooperação internacional muito ativa.
Eu tenho uma visão otimista de que o movimento global tem crescido com velocidade nos últimos anos, com os ODS, a abordagem ESG, a Agenda Impactos Setoriais. Tudo isso nos mostra que essa discussão sobre a possibilidade de ter um modelo de desenvolvimento sustentável, que use de forma eficiente os recursos naturais do planeta, é viável e é uma discussão que não tem mais retorno.
Mario: Uma coisa que ficou muito evidente com o relatório do IPCC é que temos muita ciência hoje, coisas que a ciência veio trazendo e que mostra algumas possibilidades de soluções dentro dela. E mesmo para a gente que vê processos de degradação, a compensação pode ser um caminho. Mas nós temos o pagamento de serviços ambientais, que é o reconhecimento, temos incentivos e associações. Hoje, temos tantos caminhos que podem superar algumas das dificuldades. A própria atuação das ONGs e empresas que buscam esse caminho da ESG. A gente vem agregando valores, oportunidades e aprendizados a ponto de poder dizer que é possível mudar. Temos que testar todos os modelos, todos eles são válidos.
Isabella: O que a gente está buscando é uma mudança de mentalidade. A forma do que se entendia como desenvolvimento e economia era completamente diferente do que a gente entende que é possível hoje, que é aceitável. O que é pior, compensar ou deixar o dano? O que a gente tem que fazer é evitar o máximo possível que isso aconteça. Precisamos olhar as maneiras de não desmatar mais, não ter outros danos e buscar compensar, manter e retroceder no que foi destruído.
As commodities ambientais, as políticas das agências de fomento e valorização econômica da questão ambiental, como a agenda ESG, avançam no Brasil e no mundo (ESG da sigla em inglês, Ambiental, Social e Governança), engajando o empresariado na causa socioambiental.
Em que medida o empresariado pode influenciar as políticas socioambientais no país? Como vocês percebem essa relação do meio empresarial com as instituições?
Isabella: A responsabilidade tem que ser posta em prática de forma a você buscar realmente soluções. Porque o pequeno tem voz, mas o grande tem uma voz muito mais alta. A gente tem que criar realmente uma grande corrente de mobilização, ou ativar melhor as que já existem, porque já tem muitos movimentos acontecendo. Mas eles têm que ter objetivos maiores do que só os particulares. A sociedade inteira precisa se mobilizar sobre as questões das políticas públicas, por exemplo.
Mario: A pluralidade da SOS trouxe aproximação com várias empresas. Elas têm esse papel muito grande para dar um basta no negacionismo e mostrar que a posição do Brasil hoje pode trazer prejuízos para os empregos, para a economia, para a sustentabilidade e natureza. A definição do que é desenvolvimento sustentável passa por isso. Quando se trata da natureza, a gente tem que pensar no que vai deixar [para as futuras gerações].
Maria: A gente vê esse interesse das empresas de priorizar as temáticas socioambientais, como o ESG. Uma pesquisa recente aponta que 100% dos entrevistados disseram que o ESG será a grande prioridade das empresas nos próximos anos. Por outro lado, algumas coisas ainda acontecem de maneira lenta. Apenas 5% disseram que já conseguiram incorporar alguns conceitos. Ou seja, isso ainda é muito baixo em termos concretos. Mas são sinais positivos, de vitalidade dessa discussão.
Gostou da entrevista? Então não deixe de conferir o conteúdo exclusivo que preparamos! Nele, você vai conhecer as visões das nossas convidadas e convidado sobre:
• A importância de discutirmos o tema da restauração;
• Como a restauração dos ecossistemas pode ser decisiva no enfrentamento aos impactos da tripla ameaça: mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição;
• Quão longe o Brasil está de alcançar as metas de restauração propostas pela ONU para esta década e se existe um modo de evoluirmos mais rápido nesse processo;
• Quais têm sido as maiores dificuldades do Instituto Terra e da SOS Mata Atlântica nessa jornada contra a degradação do meio ambiente.
E, claro, você ainda fica sabendo como fazer a sua parte e apoiar as Instituições. Assista ao vídeo!
Quer conhecer as opiniões das/do especialista(s) sobre outros temas – como IPTU Verde, a diferença entre exploração e desenvolvimento sustentável, a importância da produção dos pequenos agricultores, sobre a preocupação das comunidades quilombolas com a devastação e sobre as questões das terras para os povos originários?
Não perca tempo, confira a Live completa no canal do Youtube da Synergia.
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